quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A carta de Joãozinho


- Eu quero que vocês escrevam uma carta – disse a professora.

Ao término do tempo, lá foi Joãozinho entregar a carta pra professora. Ela leu, arregalou os olhos e falou:

- Joãozinho, como você foi capaz de escrever isso? Um aluno tão inteligente. Vá já pra coordenação!

Na coordenação Joãozinho contou o ocorrido.

- A professora mandou a gente escrever uma carta, eu escrevi, mostrei pra ela e ela me mandou aqui.

Após rápida leitura o rosto de espanto.

- Joãozinho, não acredito nisso. Vá já pra diretoria!

Chegando lá...

- A professora mandou a gente escrever uma carta, eu escrevi, mostrei pra ela e ela me mandou pra coordenação. Lá na coordenação a coordenadora leu e mandou pra cá.

- Joãozinho, o que significa isso? Isso não é coisa que se faça numa instituição de ensino. Você está expulso da minha escola! Pode ir para casa e nunca mais apareça aqui.

Cabisbaixo, Joãozinho foi embora da escola com a mochila nas costas, a carta na mão. Pegou seu ônibus de volta pra casa. O trocador seu amigo estranhou Joãozinho fora da escola tão cedo. Perguntou o que havia ocorrido.

- A professora mandou a gente escrever uma carta, eu escrevi, mostrei pra ela e ela me mandou pra coordenação. Lá na coordenação a coordenadora leu e mandou pra diretoria. Lá na diretoria a diretora leu e me expulsou da escola.

- O que deve haver de tão grave nessa carta? (...) Filha da puta! Que porra é essa? Pára o ônibus motorista, esse garoto vai descer e é pela porta de trás. Vaza garoto!

E lá foi Joãozinho caminhando pelas ruas até chegar em casa. No meio do caminho encontrou seu vizinho policial que logo perguntou o que ele estava fazendo tão cedo fora da escola.

- A professora mandou a gente escrever uma carta, eu escrevi, mostrei pra ela e ela me mandou pra coordenação. Lá na coordenação a coordenadora leu e mandou pra diretoria. Lá na diretoria a diretora leu e me expulsou da escola. Então eu resolvi voltar pra casa, mas estava no ônibus quando o trocador leu e me expulsou do ônibus.

Novamente o espanto estampado no rosto de mais um leitor.

- Joãozinho, eu como um profissional empenhado na convivência pacífica da população não posso permitir que você ande por aí com isso em mãos. Peço que você me acompanhe até a delegacia mais próxima.

E lá foram o policial e Joãozinho para a delegacia. Lá o delegado quis saber o que havia ocorrido.

- A professora mandou a gente escrever uma carta, eu escrevi, mostrei pra ela e ela me mandou pra coordenação. Lá na coordenação a coordenadora leu e mandou pra diretoria. Lá na diretoria a diretora leu e me expulsou da escola. Então eu resolvi voltar pra casa, mas estava no ônibus quando o trocador leu e me expulsou do ônibus. Quando estava voltando para casa de pé encontrei meu vizinho que é policial. Ele leu a carta e me mandou para a delegacia.

- Deixe-me ver essa carta. (...) Filho, infelizmente não posso permitir que você volte pra casa, você terá que ficar preso alguns dias aguardando o processo que será movido pelo Estado contra você.

Lá estava Joãozinho preso. Alguns dias depois no processo.

- Declaro aberto o processo contra Joãozinho. O que o réu tem a falar?

- A professora mandou a gente escrever uma carta, eu escrevi, mostrei pra ela e ela me mandou pra coordenação. Lá na coordenação a coordenadora leu e mandou pra diretoria. Lá na diretoria a diretora leu e me expulsou da escola. Então eu resolvi voltar pra casa, mas estava no ônibus quando o trocador leu e me expulsou do ônibus. Quando estava voltando para casa de pé encontrei meu vizinho que é policial. Ele leu a carta e me mandou para a delegacia. Na delegacia o delegado me prendeu após ler minha carta e agora estou esperando meu julgamento.

Após apurado os fatos e as provas o juiz não teve dúvidas quanto ao veredicto.

- CULPADO! Sua pena será de morte na cadeira elétrica.

E lá foi Joãozinho preso novamente. Dois dias depois morreu eletrocutado na cadeira elétrica. Chegando ao céu lá estava Ele de braços abertos esperando por Joãozinho. Como um trovão sua voz suave ressoou.

- Joãozinho, o que fazes aqui meu filho? Pareceu-me um garoto cheio de vida, obediente, educado. Não te esperava aqui tão cedo.

- A professora mandou a gente escrever uma carta, eu escrevi, mostrei pra ela e ela me mandou pra coordenação. Lá na coordenação a coordenadora leu e mandou pra diretoria. Lá na diretoria a diretora leu e me expulsou da escola. Então eu resolvi voltar pra casa, mas estava no ônibus quando o trocador leu e me expulsou do ônibus. Quando estava voltando para casa de pé encontrei meu vizinho que é policial. Ele leu a carta e me mandou para a delegacia. Lá na delegacia o delegado me prendeu após ler minha carta e pediu pra eu esperar pelo meu julgamento. Fui julgado, mas o juiz após ler minha carta deu o veredicto na hora: culpado. Então fui condenado a pena de morte na cadeira elétrica e agora estou aqui.

- Mas o que pode haver de tão grave nesta carta? Deixe-me lê-la. (...) Pelos anjos do Senhor, chagas abertas, coração ferido, meu sangue tem poder, Osana nas alturas, céus e terras passarão, mas essa carta não passará. Joãozinho você não é digno de entrar no Reino dos Céus. Vou mandá-lo para outro local.

E com o seu poder divino, Deus expulsou Joãozinho do Céu. E lá foi ele descendo, descendo, descendo... Chegando ao Inferno, Joãozinho foi logo questionado pelo Diabo.

- A professora mandou a gente escrever uma carta, eu escrevi, mostrei pra ela e ela me mandou pra coordenação. Lá na coordenação a coordenadora leu e mandou pra diretoria. Lá na diretoria a diretora leu e me expulsou da escola. Então eu resolvi voltar pra casa, mas estava no ônibus quando o trocador leu e me expulsou do ônibus. Quando estava voltando para casa de pé encontrei meu vizinho que é policial. Ele leu a carta e me mandou para a delegacia. Lá na delegacia o delegado me prendeu após ler minha carta e pediu pra eu esperar pelo meu julgamento. Fui julgado, mas o juiz após ler minha carta deu o veredicto na hora: culpado. Então fui condenado a pena de morte na cadeira elétrica. Morri, subi ao Céu, porém Deus ao ler minha carta me expulsou de lá. Agora estou aqui.

Então o Diabo leu a tal carta. E pela primeira vez a expressão facial mudou. Ele soltou uma risada satânica e vibrou.

- Finalmente tive o prazer de ler algo tão grandioso. Joãozinho o seu lugar é aqui. Seja bem-vindo.

Então o Diabo foi orgulhoso até o mural e colou a tal carta do Joãozinho para que todos pudessem ler. Então, de repente, soprou um vento e a carta voou do mural, caiu no chão flamejante do Inferno e pegou fogo.

Antes que me perguntem o que tinha escrito na carta eu digo que não sei, pois, como eu já falei, a carta pegou fogo.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Momento Ih, Fudeu!


Você mora em Fortaleza, convive diariamente com aquele calor infernal e naqueles dias as muriçocas (ou pernilongos, dependendo do local) voltaram a atacar. Ventilador no 3 (sem fazer apologias a bandas regionais) pra sobreviver ao caos dessa situação. Eis que de madrugada falta energia. Lá vem aquela zuadinha chata no seu ouvido, Ziiiiiiiin, ziiiiiiiiin. Você se enrola pra se proteger da muriçoca, ou se descobre pra se salvar de ferver com o calor? Ih, fudeu!

Situação anterior acrescida de uma prova no dia seguinte que você foi obrigado a fazer por conta de 0,085 pontos.. Claro que você aproveita pra estudar um pouco mais, já que não está conseguindo voltar a dormir. Ao amanhecer vai para a faculdade fazer o tal teste e no meio do caminho bate o carro. Ih, fudeu!

Situação anterior acrescida de o fato acontecer na semana de véspera das férias. Adeus carro, adeus dinheiro, adeus férias. Ih, fudeu!

Situação anterior acrescida de sua mãe estar em casa por causa de uma cirurgia. Ela inclusive vai passar o seu mês de férias em casa o dia todo. E junto com ela vem o “Vá tomar seu remédio.”, “O que você está fazendo?”, “O almoço está pronto, vem comer.”, “Por que você vive no MSN?”, “Vai pra onde? Com quem? Volta que horas?”, “Vamos ao supermercado, depois ao banco, depois ao médico, depois à farmácia, depois à concessionária, depois à igreja, depois...”. Adeus sossego nas férias. Ih, fudeu!

Situação anterior acrescida de você não ter mais séries pra assistir no computador. Ou seja, você passa o dia em casa sem ter o que fazer. Ih, fudeu!

Situação anterior acrescida de uma dermatite no rosto que lhe impede de pegar sol. Você é obrigado a dispensar a única saída que surgiu para você. Praiazinha. Ih, fudeu!

Situação anterior acrescida de um acidente que causou o afogamento do celular do seu irmão. Agora ele quer de volta aquele celular que faz tudo que lhe deu de presente de aniversário, pois ele não pode ficar sem telefone. Adeus celular. Ih, fudeu!

Situação anterior acrescida de uma retirada de dinheiro da conta corrente. Eu nem dinheiro tenho na conta corrente, só na poupança, ou seja, tô devendo ao banco. Ih, fudeu!

Então em meio a todas essas situações você conhece alguém bacana, começa a gostar a da pessoa, troca juras, promessas, compartilha desejos, desenvolve uma relação bem íntima a ponto de... Ih, fudeu!

E alguns poucos dias depois a pessoa viaja para longe sem data pra voltar. Ih, fudeu!

Ainda vem o Dunga e fode com o meu Infinity. Ih, fudeu!

Ainda vem o Tiririca, a mulher melancia-pêra-uva-maçã-salada-mista, o Maguila, o Kiko e o Leandro do KLB, o Kleber Bambam, a Gretchen, o Netinho de Paula, e mais trocentos outros artistas decadentes, e fodem com a política nacional. Ih, fudeu!

Ê vida fudida!!!

Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.