sábado, 24 de julho de 2010

10 Dicas de Como Ser Uma Boa Outra

Falarei hoje sobre a sina de ser O(A) OUTRO(A), ou o(a) amante, entendam como quiser. Para ficar mais claro, tratarei de um caso entre um homem, sua esposa/namorada e a outra, do ponto de vista da outra, mas se estende para os outros casos, dois homens e uma mulher, três homens, três mulheres, quatro, cinco...


1. Não ligue jamais. Se ele quiser algo com você não se preocupe, ele ligará. Ao ligar, você poderá estar gerando uma situação de desconforto entre ele e a namorada. Imagine se você liga e ele está com ela, vai gerar a famosa pergunta "Quem é?", então ele terá que mentir para a namorada, o que trará transtorno, constrangimento, enfim. Mesmo que você sinta necessidade de falar com ele não ligue. Se distraia, ligue pra mãe, pra amiga íntima, coma sorvete (80% de chance de você melhorar com este método), chocolate, saia com amigos, fala qualquer coisa que distraia sua atenção dele.

2. Crie códigos. Como é muito difícil seguir a regra acima, invente um código para que seja dito ao telefone de modo que a pessoa que esteja acompanhando ele não desconfie que ele esteja falando com uma outra, no caso você. Algo bem simples, que surja rápido na mente logo de cara. Tipo: Alô? Oi, sim, minha sala está fazendo calor mesmo, conserte a central de ar-condicionado. Tchau. Pronto, no calor que faz hoje em dia, falar sobre calor é algo super natural. Esse foi apenas um exemplo, mas pode ser apenas uma única palavra que quando dita numa frase possa gerar o seu entendimento de momento inoportuno. Se você conseguir estabelecer apelidos para as pessoas pode até ousar conversar ao telefone. Alô? Sim, estou com a cabeça nas nuvens (cabeça nas nuvens = namorada/esposa), mas prometo que assim que chegar em casa eu vou procurar resolver esse problema (resolver esse problema = ligar pra você), daí a gente poderia até conversar melhor sobre a relação entre nossa sociedade (relação entre nossa sociedade = sexo).

3. Esteja sempre disponível. Já que você não pode ligar pra avisar quando você poderá se encontrar com ele então você estará a mercê da vontade dele. Quando ele quiser você vai ter que querer também. Dê seu jeito, saia do cabeleireiro com tinta no cabelo, saia do supermercado com metade das compras por fazer, saia da balada a hora que for morta de bêbada para ir pra casa dele, termine seu cocôzinho rapidamente e corra pra lá... Não perca a oportunidade que ele está lhe dando de se encontrar com você. Aproveite.

4. Ande sempre com o celular por perto e carregado, afinal você não vai querer perder a hora que ele ligar. Não importa a hora, manhã, tarde, noite, madrugada, em casa, no trabalho, no aniversário do sobrinho, na boate, quando estiver comendo, quando estiver bêbada, quando estiver fazendo cocô (denovo o cocô na história)... Toda hora é hora para ele ligar e você terá que estar preparada para atender o telefone e já ir se preparando para correr para o local escolhido. Com o tempo você aprenderá a pensar na melhor roupa enquanto atende ao telefone, falar com ele enquanto troca de roupa e até a se maquiar enquanto implora que seja na casa dele.

5. Não o chame para sair. Vai ter apenas dois trabalhos: o de exprimir sua vontade de sair com ele e o de ser frustrada por um NÃO enorme. Ele não sairá com você para locais públicos. O único canto onde vocês se encontrarão será ou no Motel, ou em alguma casa (dele ou a sua), nunca em ambiente aberto, público. Preciso nem dizer porque né? Ele tem uma namorada, não pode ficar mostrando pra todo mundo a outra. Se quiser almoçar com ele compre a comida e leve pra lá, se quiser ir ao cinema com ele alugue o filme pirata e assista lá, se quiser ir pruma festa com ele... DESISTA.

6. O que os une não é nenhum sentimento, é o sexo. Por isso, não fale de sentimentos pra ele, pois ele mentirá e dirá que gosta de você. Mas lembre-se de que no final do sexo, ele se arrumará, voltará para casa e dormirá com a mulher, enquanto você terminará a noite sempre sozinha. Simplesmente aproveite o momento sem pensar no que ele poderá estar sentindo por você.

7. Tenha sempre assunto para conversar. Passada a fase da conquista onde ele dará em cima de você, dirá que está afim, cantará você até você ficar roxa de vergonha e o seu útero escorrer por entre as suas pernas, o assunto declinará de tal forma que pode chegar ao simples diálogo: “Vamos hoje?”, “Vamos!”, “Onde?”, Aqui!”, “Certo, já estou indo.”, “Até mais.” Fale sobre a conjuntura sócio-econômica-político-ambiental mundial, sobre as fofocas dos famosos, sobre a novela das oito, sobre o seu corte de cabelo, sobre novas posições na cama (essa é infalível, sempre gera diálogos calorosos e prolongados), sobre a morte da bezerra... Só não deixe que o assunto caia naquele estágio monossilábico irreversível.

8. Saiba quais dias são os seus. Finais de semana nem pensar. Final de semana são os dias mais sagrados dos relacionamentos oficiais. As atividades extracurriculares (entenda-se por isso você) são praticadas durante os intervalos na semana, tipo hora do almoço, quando ele sai do trabalho e só tem aquela horinha pra ir em casa, comer alguma coisa e voltar. Pois é nessa hora principalmente que você deve prestar mais atenção ao seu celular. A chance de ele tocar é imensa. Os motéis nessas horas lotam. É a famosa hora da escapadinha. Finais de semana você procure espairecer, pensar na vida, só não pense nele, pois ele com certeza não estará pensando em você, estará nos braços da oficial.

9. Saiba apagar seus rastros. Se você quiser que essa vida de ser a outra perdure por muito tempo, saiba deixar o rapaz aparentemente tão intocado como se nunca ele tivesse estado com você. Por isso, nada de chupões. É uma marca chata que demora a sair e que provavelmente acabará com o relacionamento dele, pois algo daquele tamanho no pescoço da pessoa com certeza não foi causado por uma picada de muriçoca. Se você puder usar o perfume dele é ainda melhor, pois não misturará os cheiros e a namorada dele não desconfiará daquele novo cheiro na camisa dele. Batom na camisa? Aff, essa já está super ultrapassada. Enfim, não deixe vestígios, seja precavida.

10. Regra de ouro: não se apaixone sobre hipótese alguma. Se você foi escolhida para ser a outra então reconheça seu lugar e se comporte como tal. Tenha sempre em mente que a outra pessoa não largará o relacionamento estável dela para ficar com você. Se o cara lhe paquerou e conseguiu fazer com que você aceitasse o fato de ele ter namorada e ainda assim se relacionar com você, então ele vai aproveitar ao máximo a situação de ter dois relacionamentos. Além do mais, se você já está sendo a outra, imagine se ele terminasse o namoro dele para ficar com você... o que a faz pensar que ele não teria uma outra outra enquanto namora com você? Exatamente, não se apaixone, fique nesse relacionamentozinho medíocre sem futuro, mas não nutra nada por ele, pois ele não presta. E você como toda mulher que se preze quer um relacionamento estável, casar, ter filhos... Aproveite apenas para suprir sua carência enquanto procura um outro que tenha juízo.

E é isso. Ser a outra é um exercício constante de auto-anulação. Ligue o modo "sou um objeto sexual apenas" e siga em frente sempre com as 10 regras em mente.

domingo, 11 de julho de 2010

Sobre o fim inadiável


1º final

E um dia, dirigindo de volta pra casa tarde da noite após ter feito hora extra, ela parou no sinal à espera de a luz verde se acender. A rua estava deserta. Olhou para os lados e para o retrovisor para ver se alguém se aproxima. Ninguém. Finalmente o verde acendeu e ela vai tirando o pé da embreagem vagarosamente e pisando no acelerador. Só conseguiu escutar uma buzina alta à sua esquerda e uma luz forte que se aproximava rapidamente... E então a escuridão.

No instante seguinte, ela estava caminhando por um caminho ladeado de flores. Uma paisagem que não saberia descrever nunca, apenas sentir. E foi então que ela sentiu a liberdade pela primeira vez em anos. E aquela sensação invadiu o seu ser e ela se arrependeu por nunca ter experimentado aquilo na vida. E chorou feito um bebê, sem saber nem porque, se era pela felicidade de estar vivendo finalmente aquilo, ou se pelo arrependimento de sempre ter postergado vivenciar tal momento.

Do outro lado da vida, um grupo de médicos decidia o destino da paciente com morte cerebral que havia chegado na noite anterior após ter sofrido um grave acidente de carro.

2º final

E um dia, dirigindo de volta pra casa tarde da noite após ter feito hora extra, ela parou no sinal à espera de a luz verde se acender. A rua estava deserta. Olhou para os lados e para o retrovisor para ver se alguém se aproxima. Somente um mendigo que se aproxima para pedir dinheiro. Ao chegar próximo ao vidro do carro ele mostra sutilmente a arma que carrega consigo e grita para ela sair do carro. E ali mesmo, no meio da rua deserta e fétida da cidade ele a estupra. Ela ainda tenta resistir e gritar, mas ele era bem maior do que ela e mais forte. Durou pouco mais de 10 angustiantes minutos. Mas para ela foi uma eternidade de repúdio e asco.

Foi a primeira vez que ela faltou ao trabalho em toda a sua vida. Não desejava mais sair de casa, tinha pânico, lembrava do rosto do mendigo barbudo entrando nela com brutalidade. E sem sair de casa, pediu afastamento do emprego. Estava só, ninguém estava por ela naquele momento.

Nove meses depois, o fruto daquele estupro nascia. A gravidez foi complicada, o parto também. A criança nasceu prematura com problemas neurológicos e necessitava de cuidados especiais para sobreviver. A mãe não tinha condições financeiras nem psicológicas de tratar daquela criança. Foi triste presenciar aquela cena: o juizado de menores arrancar das mãos daquela mãe considerada insana o único vínculo que a mantinha de pé ainda. Dois dias depois ela desistiu e voou para longe do oitavo andar do seu prédio.

3º final

E um dia, dirigindo de volta pra casa tarde da noite após ter feito hora extra, ela parou no sinal à espera de a luz verde se acender. A rua estava deserta. Olhou para os lados e para o retrovisor para ver se alguém se aproxima. O sinal abriu. E então num impulso não dobrou a esquina em direção ao seu apartamento. Resolveu seguir em frente, rumo ao barzinho onde seus companheiros de trabalho sempre iam. Sempre a chamavam mas ela sempre inventava uma desculpa para não ir. Dessa vez resolveu aparecer. Todos ficaram muito surpresos com a chegada da "Chefe". Foi uma noite maravilhosa para ela. Jamais imaginara que pudesse se divertir tanto. Aliás, era a primeira vez que ela fazia isso em anos. Ousara até beber uns drinks.

Naquela noite, foi para casa acompanhada de um rapaz que conhecera. Todas as mulheres do ambiente estavam de olho nele, era o rapaz mais bonito que ela já vira na vida. Brilhantes olhos verdes, um rosto com uma barba por fazer que o deixava mais charmoso, bem vestido. Era um sonho. Ainda sob efeito dos drinks ela se deixou levar pelo desejo contido durante tempos. Se entregou para ele e transou como se fosse a última coisa que faria na sua vida. Como ela conseguira adiar por tanto tempo aquele desejo de liberdade dentro de si?

No outro dia, ao acordar, não se lembrava de muita coisa, mas sentiu falta de uma presença ao seu lado. Levantou-se, foi até a cozinha e lá estava ele, o deus grego da noite anterior. Então não fora um sonho. Estava vivendo o melhor momento da sua vida. Mal sabia ela que o rapaz nunca mais voltaria a aparecer e que poucas semanas depois do ocorrido, começaria a emagrecer rapidamente. Fez uns exames e na consulta com o médico só conseguira escultar duas palavras antes de o seu mundo desabar: HIV positivo.

4º final

E um dia, dirigindo de volta pra casa tarde da noite após ter feito hora extra, ela parou no sinal à espera de a luz verde se acender. A rua estava deserta. Olhou para os lados e para o retrovisor para ver se alguém se aproxima. Ninguém. O sinal acendeu e ela seguiu pra casa. Chegando lá olhou para as correspondências sobre a mesa. Cartas dos seus pais, contas a pagar. Cansada ela estirou seus pés sobre a mesinha de cabeceira. E voltou a tossir. Começou a estranhar essa tosse persistente que ela sempre sentia ao chegar em casa. Fazia mais de um mês que isso acontecia. Logo tomou um remédio e foi dormir. Depois marcaria um médico, agora estava sem tempo para aquilo.

No outro dia, voltou a tossir, dessa vez no trabalho. Sua garganta doía muito. Naquela noite em casa, tossiu sangue vermelho vivo. Na mesma hora começou a sentir um cansaço e uma dificuldade de respirar. Entrou em pânico. Ligou para a Emergência. Em meia hora estava no hospital mais próximo. Após exames, o médico sentenciou: "Câncer de Pulmão, você tem mais 6 meses de vida."

E foram os seis meses mais bem vividos por ela. Voltou para casa dos seus pais, reencontrou seus amigos de infância e da época do colégio, namorou o rapaz mais bonito da turma por quem sempre fora apaixonada, realizou seu sonho de viajar para África, doou parte da sua fortuna para empresas beneficentes, patinou no gelo, recebeu flores, deu gargalhadas, comeu sorvete, caminhou na praia de mãos dadas... foi feliz. Nos últimos dias de vida, ao perguntarem sua idade ela respondeu: 6 meses.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Sobre o eterno adiar


“Com certeza teria tempo depois.” Era esse o pensamento dela a maior parte do tempo, desde que completara 15 anos e resolvera ingressar numa difícil faculdade pública de sua cidade.

Começou tentando passar na tal faculdade. Estudava dia e noite, de domingo à domingo, faça chuva ou faça sol. Nunca foi de sair à noite para festas e o fanatismo pelos estudos fez com que ela se distanciasse dos colegas de sala, dificultando ainda mais sua vida social. Durante as viagens os livros sempre a acompanhavam. Namorar nem pensar. Porém ela não via naquilo um problema, sabia que estava fazendo o melhor para si, pois depois que passasse com certeza teria tempo pra fazer tudo que não fizera. Infelizmente na sua primeira tentativa de vestibular, apesar dos esforços, não passou. Focara muito no conhecimento e descuidara do psicológico. Resultado: nervosismo, má administração do tempo de prova, choro descontrolado, desastre total.

Foi um baque, mas ela superaria, dessa vez com mais estudos e uma pitada de controle emocional. Foi nessa época que começou a freqüentar o psicólogo para manter sua estabilidade emocional durante a prova. Após outro ano de abdicação e total dedicação aos estudos ela logrou êxito no vestibular. Passara em 54º lugar. Agora sim, teria tempo para fazer tudo que havia abdicado naqueles anos.

Em pouco mais de um mês as aulas na faculdade começaram. O volume de matéria era muito maior do que antes e o tempo para estudar muito menor. Fora isso ainda haviam atividades extras para incrementar o currículo: projetos de pesquisa, projetos de extensão, estágios, monitorias. A instabilidade emocional dela voltou a afetar seu dia-a-dia. Desesperava-se facilmente com a quantidade de coisas a fazer. Devido ao volume exorbitante de estudos, sempre se mantivera distante da sua turma, pois achava que perderia o foco caso se envolvesse com as pessoas da faculdade, afinal eles viviam em festas, bebiam, viajavam, alguns tiravam notas baixas, e não era isso que ela queria para si. Por isso, não tinha sequer um amigo com quem pudesse conversar, confiar segredos, rir.

“Com certeza teria tempo para tudo isso depois.” Voltara a pensar nisso. E assim levou a faculdade. Quando não mais agüentava a pressão que ela se auto impunha corria para o psicólogo e desabafava tudo que tinha em mente. Este era como uma válvula de escape.

Alguns anos nessa luta e, enfim, terminara o curso. A formatura foi linda, sua família estava orgulhosa da filha que se formara no curso mais difícil da faculdade pública mais bem conceituada do país. Ao redor todos eram só alegria, parentes se abraçando, namorados se beijando, amigos relembrando os bons tempos vividos. E ela sentada na sua mesa feliz pela sua conquista. Finalmente teria tempo para escrever a história da sua vida, iria namorar, sair para festas, viajar pelo país, conhecer gente nova, iria desfrutar da vida pela qual se privou todo esse tempo. Era essa a esperança que a movia naquele momento. Nem sequer a sua ausência nas fotos das festas da turma que passaram a ser exibidas no telão lhe causou tristeza.

Já tinha uma pós-graduação em mente ao terminar a faculdade, fora da cidade onde morava com os pais. Acabou se mudando para lá dois meses depois, indo morar sozinha no centro de uma cidade grande. Continuou difícil lidar com o tempo durante a pós. Precisava estudar muito, além de trabalhar e cuidar dos afazeres da casa. Economizava ao máximo o dinheiro para conseguir pagar as despesas. Após o término da pós, arranjou um emprego. Eram 8 horas diárias de expediente. Ela se dedicava ao máximo, trabalhava o seu expediente normal e sempre levava trabalho para casa. Era extenuante sua rotina diária, mas pelo menos estava ganhando bem agora. E pela ótima qualidade de trabalho ela era cada vez mais cobrada pelo chefe.

Em pouco tempo subiu de cargo, aumentando as cobranças sobre si. O tempo lhe era mais raro agora que tinha que gerenciar a vida de milhares de empregados. Chegava em casa todos os dias esgotada, nem férias ela conseguia tirar, pois tornara-se a engrenagem chave que movia toda a empresa, muita coisa dependia dela para funcionar.

Não via seus pais há anos. Sempre marcava a viagem e desmarcava em seguida, pois aparecia algo que a impedia de ir. Nem sequer tempo pra ligar ela tinha. Quando se esforçava conseguia mandar algo pelo correio pra eles. E os anos foram passando...




(Confesso que não terminei a história, tenho vários finais para minha personagem, no próximo post teremos os finais que pensei para ela.)