sexta-feira, 4 de junho de 2010

Sonata da Monotonia


E ela não tem muitas pretensões na vida. Agrada a ela o fato de ser uma profissional medíocre. Medíocre para muitos pode ser um insulto. Não para ela. Não pretende ser notada. Quer ser mais um parafuso que faz funcionar a enorme máquina. Não leva trabalho pra casa. O que deve fazer no trabalho faz no trabalho. Nem mais, nem menos. Nem elogios, nem broncas. E no final do expediente vai pra casa. Mora só. Não tem namorado. Apenas um cachorro. Ligeiro passeio pela rua com o cachorro. Anda o suficiente. Fez cocô, fez xixi, volta pra casa. No caminho nada demais. Bêbados e prostitutas. No aconchego do lar esquenta a comida. De ontem? Anteontem. Não importa. O gosto está tão ruim quanto no dia. A pia acumula mais um prato, mais um garfo. E a geladeira acumula o resto da comida. Vai pro banho. Sai do banho. Veste a camisa larga dele. O cheiro dele impregnado. Deita no sofá. Liga a TV. Fecha os olhos e torce pra dormir antes de 4 da manhã. Notícias, filmes, riscos. Tudo passa na TV. Só o tempo não passa. E o calor. Depois de horas ela se levanta. Prepara um banho quente. E um leite gelado. E volta a deitar. E na hora sagrada enfim desfalece. Sonhos. Pesadelos. 2 horas depois acorda. Telefone. "Alô? Não, não tem ninguém aqui com esse nome." Adeus son(h)o. Respira fundo e vai se arrumar. Não pode chegar atrasada ao seu trabalho medíocre. Tem de ser medíocre só mais hoje. Só mais um dia.

2 comentários:

Unknown disse...

*-*
se responde!!!
prefiro você assim: conciso e nihilista ao extremo!!!
massa!

Anamélia disse...

adorei tb...mas ainda tenho uma queda pelo seu humor. acho q vou ficar em cima do muro.