quinta-feira, 23 de setembro de 2010
A carta de Joãozinho
- Eu quero que vocês escrevam uma carta – disse a professora.
Ao término do tempo, lá foi Joãozinho entregar a carta pra professora. Ela leu, arregalou os olhos e falou:
- Joãozinho, como você foi capaz de escrever isso? Um aluno tão inteligente. Vá já pra coordenação!
Na coordenação Joãozinho contou o ocorrido.
- A professora mandou a gente escrever uma carta, eu escrevi, mostrei pra ela e ela me mandou aqui.
Após rápida leitura o rosto de espanto.
- Joãozinho, não acredito nisso. Vá já pra diretoria!
Chegando lá...
- A professora mandou a gente escrever uma carta, eu escrevi, mostrei pra ela e ela me mandou pra coordenação. Lá na coordenação a coordenadora leu e mandou pra cá.
- Joãozinho, o que significa isso? Isso não é coisa que se faça numa instituição de ensino. Você está expulso da minha escola! Pode ir para casa e nunca mais apareça aqui.
Cabisbaixo, Joãozinho foi embora da escola com a mochila nas costas, a carta na mão. Pegou seu ônibus de volta pra casa. O trocador seu amigo estranhou Joãozinho fora da escola tão cedo. Perguntou o que havia ocorrido.
- A professora mandou a gente escrever uma carta, eu escrevi, mostrei pra ela e ela me mandou pra coordenação. Lá na coordenação a coordenadora leu e mandou pra diretoria. Lá na diretoria a diretora leu e me expulsou da escola.
- O que deve haver de tão grave nessa carta? (...) Filha da puta! Que porra é essa? Pára o ônibus motorista, esse garoto vai descer e é pela porta de trás. Vaza garoto!
E lá foi Joãozinho caminhando pelas ruas até chegar em casa. No meio do caminho encontrou seu vizinho policial que logo perguntou o que ele estava fazendo tão cedo fora da escola.
- A professora mandou a gente escrever uma carta, eu escrevi, mostrei pra ela e ela me mandou pra coordenação. Lá na coordenação a coordenadora leu e mandou pra diretoria. Lá na diretoria a diretora leu e me expulsou da escola. Então eu resolvi voltar pra casa, mas estava no ônibus quando o trocador leu e me expulsou do ônibus.
Novamente o espanto estampado no rosto de mais um leitor.
- Joãozinho, eu como um profissional empenhado na convivência pacífica da população não posso permitir que você ande por aí com isso em mãos. Peço que você me acompanhe até a delegacia mais próxima.
E lá foram o policial e Joãozinho para a delegacia. Lá o delegado quis saber o que havia ocorrido.
- A professora mandou a gente escrever uma carta, eu escrevi, mostrei pra ela e ela me mandou pra coordenação. Lá na coordenação a coordenadora leu e mandou pra diretoria. Lá na diretoria a diretora leu e me expulsou da escola. Então eu resolvi voltar pra casa, mas estava no ônibus quando o trocador leu e me expulsou do ônibus. Quando estava voltando para casa de pé encontrei meu vizinho que é policial. Ele leu a carta e me mandou para a delegacia.
- Deixe-me ver essa carta. (...) Filho, infelizmente não posso permitir que você volte pra casa, você terá que ficar preso alguns dias aguardando o processo que será movido pelo Estado contra você.
Lá estava Joãozinho preso. Alguns dias depois no processo.
- Declaro aberto o processo contra Joãozinho. O que o réu tem a falar?
- A professora mandou a gente escrever uma carta, eu escrevi, mostrei pra ela e ela me mandou pra coordenação. Lá na coordenação a coordenadora leu e mandou pra diretoria. Lá na diretoria a diretora leu e me expulsou da escola. Então eu resolvi voltar pra casa, mas estava no ônibus quando o trocador leu e me expulsou do ônibus. Quando estava voltando para casa de pé encontrei meu vizinho que é policial. Ele leu a carta e me mandou para a delegacia. Na delegacia o delegado me prendeu após ler minha carta e agora estou esperando meu julgamento.
Após apurado os fatos e as provas o juiz não teve dúvidas quanto ao veredicto.
- CULPADO! Sua pena será de morte na cadeira elétrica.
E lá foi Joãozinho preso novamente. Dois dias depois morreu eletrocutado na cadeira elétrica. Chegando ao céu lá estava Ele de braços abertos esperando por Joãozinho. Como um trovão sua voz suave ressoou.
- Joãozinho, o que fazes aqui meu filho? Pareceu-me um garoto cheio de vida, obediente, educado. Não te esperava aqui tão cedo.
- A professora mandou a gente escrever uma carta, eu escrevi, mostrei pra ela e ela me mandou pra coordenação. Lá na coordenação a coordenadora leu e mandou pra diretoria. Lá na diretoria a diretora leu e me expulsou da escola. Então eu resolvi voltar pra casa, mas estava no ônibus quando o trocador leu e me expulsou do ônibus. Quando estava voltando para casa de pé encontrei meu vizinho que é policial. Ele leu a carta e me mandou para a delegacia. Lá na delegacia o delegado me prendeu após ler minha carta e pediu pra eu esperar pelo meu julgamento. Fui julgado, mas o juiz após ler minha carta deu o veredicto na hora: culpado. Então fui condenado a pena de morte na cadeira elétrica e agora estou aqui.
- Mas o que pode haver de tão grave nesta carta? Deixe-me lê-la. (...) Pelos anjos do Senhor, chagas abertas, coração ferido, meu sangue tem poder, Osana nas alturas, céus e terras passarão, mas essa carta não passará. Joãozinho você não é digno de entrar no Reino dos Céus. Vou mandá-lo para outro local.
E com o seu poder divino, Deus expulsou Joãozinho do Céu. E lá foi ele descendo, descendo, descendo... Chegando ao Inferno, Joãozinho foi logo questionado pelo Diabo.
- A professora mandou a gente escrever uma carta, eu escrevi, mostrei pra ela e ela me mandou pra coordenação. Lá na coordenação a coordenadora leu e mandou pra diretoria. Lá na diretoria a diretora leu e me expulsou da escola. Então eu resolvi voltar pra casa, mas estava no ônibus quando o trocador leu e me expulsou do ônibus. Quando estava voltando para casa de pé encontrei meu vizinho que é policial. Ele leu a carta e me mandou para a delegacia. Lá na delegacia o delegado me prendeu após ler minha carta e pediu pra eu esperar pelo meu julgamento. Fui julgado, mas o juiz após ler minha carta deu o veredicto na hora: culpado. Então fui condenado a pena de morte na cadeira elétrica. Morri, subi ao Céu, porém Deus ao ler minha carta me expulsou de lá. Agora estou aqui.
Então o Diabo leu a tal carta. E pela primeira vez a expressão facial mudou. Ele soltou uma risada satânica e vibrou.
- Finalmente tive o prazer de ler algo tão grandioso. Joãozinho o seu lugar é aqui. Seja bem-vindo.
Então o Diabo foi orgulhoso até o mural e colou a tal carta do Joãozinho para que todos pudessem ler. Então, de repente, soprou um vento e a carta voou do mural, caiu no chão flamejante do Inferno e pegou fogo.
Antes que me perguntem o que tinha escrito na carta eu digo que não sei, pois, como eu já falei, a carta pegou fogo.
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Momento Ih, Fudeu!
Você mora em Fortaleza, convive diariamente com aquele calor infernal e naqueles dias as muriçocas (ou pernilongos, dependendo do local) voltaram a atacar. Ventilador no 3 (sem fazer apologias a bandas regionais) pra sobreviver ao caos dessa situação. Eis que de madrugada falta energia. Lá vem aquela zuadinha chata no seu ouvido, Ziiiiiiiin, ziiiiiiiiin. Você se enrola pra se proteger da muriçoca, ou se descobre pra se salvar de ferver com o calor? Ih, fudeu!
Situação anterior acrescida de uma prova no dia seguinte que você foi obrigado a fazer por conta de 0,085 pontos.. Claro que você aproveita pra estudar um pouco mais, já que não está conseguindo voltar a dormir. Ao amanhecer vai para a faculdade fazer o tal teste e no meio do caminho bate o carro. Ih, fudeu!
Situação anterior acrescida de o fato acontecer na semana de véspera das férias. Adeus carro, adeus dinheiro, adeus férias. Ih, fudeu!
Situação anterior acrescida de sua mãe estar em casa por causa de uma cirurgia. Ela inclusive vai passar o seu mês de férias em casa o dia todo. E junto com ela vem o “Vá tomar seu remédio.”, “O que você está fazendo?”, “O almoço está pronto, vem comer.”, “Por que você vive no MSN?”, “Vai pra onde? Com quem? Volta que horas?”, “Vamos ao supermercado, depois ao banco, depois ao médico, depois à farmácia, depois à concessionária, depois à igreja, depois...”. Adeus sossego nas férias. Ih, fudeu!
Situação anterior acrescida de você não ter mais séries pra assistir no computador. Ou seja, você passa o dia em casa sem ter o que fazer. Ih, fudeu!
Situação anterior acrescida de uma dermatite no rosto que lhe impede de pegar sol. Você é obrigado a dispensar a única saída que surgiu para você. Praiazinha. Ih, fudeu!
Situação anterior acrescida de um acidente que causou o afogamento do celular do seu irmão. Agora ele quer de volta aquele celular que faz tudo que lhe deu de presente de aniversário, pois ele não pode ficar sem telefone. Adeus celular. Ih, fudeu!
Situação anterior acrescida de uma retirada de dinheiro da conta corrente. Eu nem dinheiro tenho na conta corrente, só na poupança, ou seja, tô devendo ao banco. Ih, fudeu!
Então em meio a todas essas situações você conhece alguém bacana, começa a gostar a da pessoa, troca juras, promessas, compartilha desejos, desenvolve uma relação bem íntima a ponto de... Ih, fudeu!
E alguns poucos dias depois a pessoa viaja para longe sem data pra voltar. Ih, fudeu!
Ainda vem o Dunga e fode com o meu Infinity. Ih, fudeu!
Ainda vem o Tiririca, a mulher melancia-pêra-uva-maçã-salada-mista, o Maguila, o Kiko e o Leandro do KLB, o Kleber Bambam, a Gretchen, o Netinho de Paula, e mais trocentos outros artistas decadentes, e fodem com a política nacional. Ih, fudeu!
Ê vida fudida!!!
Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Reclamando de A - Z
E no pior dia do ano cá estou com mais um post. Na verdade, por ser o pior dia do ano, já se imagina a qualidade disso aqui né. Não vai sair muita coisa boa. Na verdade só queria reclamar. Para os mais sensíveis melhor não continuarem a leitura, cenas muito fortes com linguajar vulgar está por vir.
a) Vou reclamar da tabela de números aleatórios que o professor deve ter usado para dar aquela nota pra mim. Pior é ficar me enrolando ao telefone, dizendo pra eu fa fa fazer a pro pro provinha. Qual será o tipo de retardo mental dele?
b) Vou reclamar da professora que acha que 0,085 é o suficiente pra dar uma cagada fenomenal no meu histórico. E ainda vem com aquela voz calma de astenia profunda. Cochilei cinco vezes enquanto falava com ela ao telefone.
c) Vou reclamar, aproveitando que falei de cagada, do cocô de gato no qual não pisei dia desses, mas que levei a culpa por ter pisado. Olhei no meu tênis e não tinha nada pregado, mas fui o bode expiatório da vez. Olhe se for pra levar culpa que seja por ter feito a coisa. Burramente eu não fui lá fora da sala e pisei num real tolete de gato, misturado com mijo, vômito, escarro, formol do laboratório de anatomia e uma pitada de jardineira com picadinho do RU. Aí sim, não negaria que o cheira era do meu tênis.
d) Vou reclamar do meu carro por não ter conseguido frear a tempo de bater em outro carro. Claro que a culpa não foi minha, obrigação do freio é parar o carro, se não parou então a culpa é dele, se o pneu tava careca então a culpa era do pneu, se a pista tava molhada então a culpa era da pista (ou da água por molhar), só não era minha.
e) Vou reclamar do carro que eu bati por ter batido em outro carro. Era pra ele ter mantido a distância de segurança do carro da frente pra evitar justamente isso. Fudeu com meu orçamento familiar, consertar três carros (incluindo o meu).
f) Vou reclamar do fato de isso ter acontecido a uma semana das minhas férias. Resultado: adeus férias. Não vou ter carro pra sair, nem dinheiro. Tudo bem que o dinheiro pra pagar o rombo não vai sair do meu bolso, mas com certeza também não vai entrar dinheiro nenhum no meu bolso nos próximos meses.
g) Vou reclamar do buraco que o meu corpo formou no meu colchão. Agora não durmo mais de cama, pois o colchão vira rede quando eu deito, se adapta completamente ao meu corpo. Quando amanheço todo entrevado tenho que sair de dentro de uma vala com muito esforço.
h) Vou reclamar da bateria do meu celular-que-faz-tudo. Ele canta, toca, dança, faz pipoca, faz cafuné, tira dinheiro do banco, lava louça, limpa banheiro, agoa as plantas, faz as compras da minha casa, me consulta, faz terapia comigo, me aconselha... ele faz tudo, inclusive ligar. É igual farmácia Pague Menos, vende tudo, inclusive remédio. Porém a bateria do meu celular só agüenta 24horas. Nem o meu Nokia 3310 modelo tijolão halteres de academia, era tão fraco.
i) Vou reclamar das minhas meias furadas e das minhas cuecas afolozadas. Se quiserem me dar meias que não estejam na promoção “Compre 5 pares e ganhe um ferro de passar da Wallita” já podem. Aceito até as Meias Vivarinas, aquelas que não são cortadas nem pelas Facas Ginsworld Class. Mas pela óstia consagrada meu pé é 43, achem uma meia decente que caiba num pé indecente desses. Digo o mesmo para as cuecas, o elástico delas está pouco resistente. Tem uma que eu só uso porque já é de estimação, mas não segura mais nada, e ainda deixa um mondrongo disforme na frente enquanto a borda da cueca fica em formato de ondinhas.
j) Vou reclamar também da falta de espaço no meu quarto. E não é porque eu sou bagunçado não. Daqui a pouco tempo, pra entrar algo ali vai ter que sair outra coisa. Eu já nem me considero mais dormindo naquela cama daqui há seis meses. Vou pra sala. A cama já está semi ocupada, atualmente durmo na metade dela. Já quero um puxadinho no meu quarto pra jogar minhas tralhas.
k) Vou reclamar da privada do meu banheiro que não pára de pingar. Daí vem o meu pai e diz que eu cago muito grande e que por isso entope. Desculpa se eu ainda não aprendi a lendária técnica de fatiar a bosta pra facilitar a vida da descarga.
l) Vou reclamar da falta de tempo pra estudar pra toda e qualquer prova da faculdade. Não venham budejar no meu ouvido e dizer que é porque deixo a matéria acumular. Desculpa se eu tenho vida social. Pior é quem não tem vida social e ainda assim não consegue terminar a matéria. Morram.
m) Vou reclamar daquele aspirante a halterofilista da minha academia que fica gritando enquanto levanta peso. Se não pode com os pesos que carrega então não coloque ora porra! Pior é ficar gemendo feito uma porca no cio. Fora que fica todo suado se esfregando nos aparelhos. Nem autoclavando esteriliza aquela gosma. E ainda atrapalha a gente, pedindo pra ajudar a levantar os pesos com ele. Ô vontade que eu tenho de soltar sem querer a barra na cara dele. E digo logo que se alguém se identificar com isso eu nego até a morte que fui eu que escrevi.
n) Vou reclamar da minha internet à lenha. Lerdox. Ver vídeos no Youtube é uma lenda. Baixar seriados é uma ilusão. Já até tentei deixar baixando de um dia pro outro, laptop ficou lá, ligadão na tomada a noite inteira, quando acordei empolgado pra ver o que tinha baixado, descubro que a internet tinha caído. O nome disso é sabe qual? Acha pouco. Se o próximo presidente quiser fazer um projeto Bolsa Velox eu acho digno. Já tem o meu voto.
o) Vou reclamar do Cid Gomes. Claro que não poderia de deixar de reclamar dele que tanto fez pela minha Universidade. Vocês estão entendendo a minha ironia ou eu vou precisar colocar isso ¬¬ ? Se ele quiser entender que ele é governador do ESTADO e que por isso precisa investir na educação do ESTADO, tipo na Universidade ESTADUAL do Ceará, seria bom. Não fez nada pela UECE. Tomara que ele se afogue no Aquário que ele planeja construir.
p) Vou reclamar da falta de absurdo do Instituto Superior de Ciências Biomédicas por ter nos expulsado de uma das salas de lá. Mas calma, vamos para outro bloco que vai ser construído com toda infra-estrutura necessária para que possamos ter aulas com recursos de datashow, ar-condicionado, paredes isoladas, cadeiras acolchoadas... Hanrãn, senta lá Cláudia.
q) Vou reclamar do meu plantão que está mais parado do que a pedra que havia no meio do caminho. Residentes de greve, staffs não descem pra atender ninguém, fico boiando feito merda n’água. Se quiserem salvar o povo já podem viu.
r) Vou reclamar do frio que faz na residência médica de madrugada. É um martírio dormir naquela geladeira, posso dormir 10 horas da noite, mas ainda acordo como se tivesse dormido muito pouco, pois fico me acordando de 10 em 10 minutos por causa do frio. Acho digno desligarem o ar-condicionado enquanto eu estou dormindo.
s) Vou reclamar de datas onde todo mundo fica numa felicidade questionável desejando tudo de ótimo pra você. A saber: Natal, Ano Novo, Aniversário e Dia dos Namorados. O discurso é sempre o mesmo: felicidades, sorte, saúde, paz, blá blá blá. Já posso ter abuso disso? Por que ninguém surpreende tipo “vamos para um cabaré”, “vamos beber até morrer, eu pago”, “desejo que você tenha 12 mulheres, uma pra cada mês do ano pra não enjoar”, “pega a chave do meu carro, pode sair nele hoje e voltar quando quiser”? Se quiserem ousar comigo estou topando.
t) Vou reclamar das minhas caspas que não largam da minha cabeça nem com xampu anti-caspa. Já cortei o cabelo no zero, já usei uma loção que tinha cheiro de bosta de vaca misturado com o suor do halterofilista da academia (vide letra m) e nada resolveu. Tenho é vergonha quando vou cortar o cabelo e vejo as expressões faciais do cabeleireiro do tipo “que demônio de farinha é essa no cabelo dessa criatura?”.Se alguém tiver um produto bom que ajude eu agradeceria.
u) Vou reclamar da minha indecisão, insegurança e incerteza (nem sei se querem dizer a mesma coisa). Não carece de explicação.
v) Vou reclamar até da Lorena Simpson e suas músicas viciantes. Ela deve ter feito pacto com o demo, porque eu não consigo mais parar de ouvir essas músicas. “Free to live, live my life, now I’m letting all behind.”
w) Vou reclamar das minhas mazelas, tipo meus olhos problemáticos, minha epilepsia parcial simples, minha CMAFM (Carência Múltipla Aguda Fatal Maligna), minha bipolaridade, minha demência supra-cortical, minha enxaqueca, minha catarrocefalia, dentre outros que não vale citar aqui. Se o Criança Esperança me conhecesse faria um show só em prol da minha saúde. Teleton já tentou me ajudar uma vez.
x) Vou reclamar dos meus pêlos corporais. Podem crescer, mas se quiserem crescer mais devagar já podem. Meu estilo Tony Ramos não me agrada, prefiro estilo Gianecchini (comentário gay, não?).
y) Vou reclamar das minhas reclamações totalmente sem sentido, vocês são muito pacientes por chegarem até aqui. Deus é mais, chagas open.
z) Vou reclamar finalmente da porra desse alfabeto com tanta letra. Caralho! Quase não acabo essa bosta aqui. Fui.
Parabéns para mim! ¬¬’
sábado, 24 de julho de 2010
10 Dicas de Como Ser Uma Boa Outra
1. Não ligue jamais. Se ele quiser algo com você não se preocupe, ele ligará. Ao ligar, você poderá estar gerando uma situação de desconforto entre ele e a namorada. Imagine se você liga e ele está com ela, vai gerar a famosa pergunta "Quem é?", então ele terá que mentir para a namorada, o que trará transtorno, constrangimento, enfim. Mesmo que você sinta necessidade de falar com ele não ligue. Se distraia, ligue pra mãe, pra amiga íntima, coma sorvete (80% de chance de você melhorar com este método), chocolate, saia com amigos, fala qualquer coisa que distraia sua atenção dele.
2. Crie códigos. Como é muito difícil seguir a regra acima, invente um código para que seja dito ao telefone de modo que a pessoa que esteja acompanhando ele não desconfie que ele esteja falando com uma outra, no caso você. Algo bem simples, que surja rápido na mente logo de cara. Tipo: Alô? Oi, sim, minha sala está fazendo calor mesmo, conserte a central de ar-condicionado. Tchau. Pronto, no calor que faz hoje em dia, falar sobre calor é algo super natural. Esse foi apenas um exemplo, mas pode ser apenas uma única palavra que quando dita numa frase possa gerar o seu entendimento de momento inoportuno. Se você conseguir estabelecer apelidos para as pessoas pode até ousar conversar ao telefone. Alô? Sim, estou com a cabeça nas nuvens (cabeça nas nuvens = namorada/esposa), mas prometo que assim que chegar em casa eu vou procurar resolver esse problema (resolver esse problema = ligar pra você), daí a gente poderia até conversar melhor sobre a relação entre nossa sociedade (relação entre nossa sociedade = sexo).
3. Esteja sempre disponível. Já que você não pode ligar pra avisar quando você poderá se encontrar com ele então você estará a mercê da vontade dele. Quando ele quiser você vai ter que querer também. Dê seu jeito, saia do cabeleireiro com tinta no cabelo, saia do supermercado com metade das compras por fazer, saia da balada a hora que for morta de bêbada para ir pra casa dele, termine seu cocôzinho rapidamente e corra pra lá... Não perca a oportunidade que ele está lhe dando de se encontrar com você. Aproveite.
4. Ande sempre com o celular por perto e carregado, afinal você não vai querer perder a hora que ele ligar. Não importa a hora, manhã, tarde, noite, madrugada, em casa, no trabalho, no aniversário do sobrinho, na boate, quando estiver comendo, quando estiver bêbada, quando estiver fazendo cocô (denovo o cocô na história)... Toda hora é hora para ele ligar e você terá que estar preparada para atender o telefone e já ir se preparando para correr para o local escolhido. Com o tempo você aprenderá a pensar na melhor roupa enquanto atende ao telefone, falar com ele enquanto troca de roupa e até a se maquiar enquanto implora que seja na casa dele.
5. Não o chame para sair. Vai ter apenas dois trabalhos: o de exprimir sua vontade de sair com ele e o de ser frustrada por um NÃO enorme. Ele não sairá com você para locais públicos. O único canto onde vocês se encontrarão será ou no Motel, ou em alguma casa (dele ou a sua), nunca em ambiente aberto, público. Preciso nem dizer porque né? Ele tem uma namorada, não pode ficar mostrando pra todo mundo a outra. Se quiser almoçar com ele compre a comida e leve pra lá, se quiser ir ao cinema com ele alugue o filme pirata e assista lá, se quiser ir pruma festa com ele... DESISTA.
6. O que os une não é nenhum sentimento, é o sexo. Por isso, não fale de sentimentos pra ele, pois ele mentirá e dirá que gosta de você. Mas lembre-se de que no final do sexo, ele se arrumará, voltará para casa e dormirá com a mulher, enquanto você terminará a noite sempre sozinha. Simplesmente aproveite o momento sem pensar no que ele poderá estar sentindo por você.
7. Tenha sempre assunto para conversar. Passada a fase da conquista onde ele dará em cima de você, dirá que está afim, cantará você até você ficar roxa de vergonha e o seu útero escorrer por entre as suas pernas, o assunto declinará de tal forma que pode chegar ao simples diálogo: “Vamos hoje?”, “Vamos!”, “Onde?”, Aqui!”, “Certo, já estou indo.”, “Até mais.” Fale sobre a conjuntura sócio-econômica-político-ambiental mundial, sobre as fofocas dos famosos, sobre a novela das oito, sobre o seu corte de cabelo, sobre novas posições na cama (essa é infalível, sempre gera diálogos calorosos e prolongados), sobre a morte da bezerra... Só não deixe que o assunto caia naquele estágio monossilábico irreversível.
8. Saiba quais dias são os seus. Finais de semana nem pensar. Final de semana são os dias mais sagrados dos relacionamentos oficiais. As atividades extracurriculares (entenda-se por isso você) são praticadas durante os intervalos na semana, tipo hora do almoço, quando ele sai do trabalho e só tem aquela horinha pra ir em casa, comer alguma coisa e voltar. Pois é nessa hora principalmente que você deve prestar mais atenção ao seu celular. A chance de ele tocar é imensa. Os motéis nessas horas lotam. É a famosa hora da escapadinha. Finais de semana você procure espairecer, pensar na vida, só não pense nele, pois ele com certeza não estará pensando em você, estará nos braços da oficial.
9. Saiba apagar seus rastros. Se você quiser que essa vida de ser a outra perdure por muito tempo, saiba deixar o rapaz aparentemente tão intocado como se nunca ele tivesse estado com você. Por isso, nada de chupões. É uma marca chata que demora a sair e que provavelmente acabará com o relacionamento dele, pois algo daquele tamanho no pescoço da pessoa com certeza não foi causado por uma picada de muriçoca. Se você puder usar o perfume dele é ainda melhor, pois não misturará os cheiros e a namorada dele não desconfiará daquele novo cheiro na camisa dele. Batom na camisa? Aff, essa já está super ultrapassada. Enfim, não deixe vestígios, seja precavida.
10. Regra de ouro: não se apaixone sobre hipótese alguma. Se você foi escolhida para ser a outra então reconheça seu lugar e se comporte como tal. Tenha sempre em mente que a outra pessoa não largará o relacionamento estável dela para ficar com você. Se o cara lhe paquerou e conseguiu fazer com que você aceitasse o fato de ele ter namorada e ainda assim se relacionar com você, então ele vai aproveitar ao máximo a situação de ter dois relacionamentos. Além do mais, se você já está sendo a outra, imagine se ele terminasse o namoro dele para ficar com você... o que a faz pensar que ele não teria uma outra outra enquanto namora com você? Exatamente, não se apaixone, fique nesse relacionamentozinho medíocre sem futuro, mas não nutra nada por ele, pois ele não presta. E você como toda mulher que se preze quer um relacionamento estável, casar, ter filhos... Aproveite apenas para suprir sua carência enquanto procura um outro que tenha juízo.
E é isso. Ser a outra é um exercício constante de auto-anulação. Ligue o modo "sou um objeto sexual apenas" e siga em frente sempre com as 10 regras em mente.
domingo, 11 de julho de 2010
Sobre o fim inadiável
1º final
E um dia, dirigindo de volta pra casa tarde da noite após ter feito hora extra, ela parou no sinal à espera de a luz verde se acender. A rua estava deserta. Olhou para os lados e para o retrovisor para ver se alguém se aproxima. Ninguém. Finalmente o verde acendeu e ela vai tirando o pé da embreagem vagarosamente e pisando no acelerador. Só conseguiu escutar uma buzina alta à sua esquerda e uma luz forte que se aproximava rapidamente... E então a escuridão.
No instante seguinte, ela estava caminhando por um caminho ladeado de flores. Uma paisagem que não saberia descrever nunca, apenas sentir. E foi então que ela sentiu a liberdade pela primeira vez em anos. E aquela sensação invadiu o seu ser e ela se arrependeu por nunca ter experimentado aquilo na vida. E chorou feito um bebê, sem saber nem porque, se era pela felicidade de estar vivendo finalmente aquilo, ou se pelo arrependimento de sempre ter postergado vivenciar tal momento.
Do outro lado da vida, um grupo de médicos decidia o destino da paciente com morte cerebral que havia chegado na noite anterior após ter sofrido um grave acidente de carro.
2º final
E um dia, dirigindo de volta pra casa tarde da noite após ter feito hora extra, ela parou no sinal à espera de a luz verde se acender. A rua estava deserta. Olhou para os lados e para o retrovisor para ver se alguém se aproxima. Somente um mendigo que se aproxima para pedir dinheiro. Ao chegar próximo ao vidro do carro ele mostra sutilmente a arma que carrega consigo e grita para ela sair do carro. E ali mesmo, no meio da rua deserta e fétida da cidade ele a estupra. Ela ainda tenta resistir e gritar, mas ele era bem maior do que ela e mais forte. Durou pouco mais de 10 angustiantes minutos. Mas para ela foi uma eternidade de repúdio e asco.
Foi a primeira vez que ela faltou ao trabalho em toda a sua vida. Não desejava mais sair de casa, tinha pânico, lembrava do rosto do mendigo barbudo entrando nela com brutalidade. E sem sair de casa, pediu afastamento do emprego. Estava só, ninguém estava por ela naquele momento.
Nove meses depois, o fruto daquele estupro nascia. A gravidez foi complicada, o parto também. A criança nasceu prematura com problemas neurológicos e necessitava de cuidados especiais para sobreviver. A mãe não tinha condições financeiras nem psicológicas de tratar daquela criança. Foi triste presenciar aquela cena: o juizado de menores arrancar das mãos daquela mãe considerada insana o único vínculo que a mantinha de pé ainda. Dois dias depois ela desistiu e voou para longe do oitavo andar do seu prédio.
3º final
E um dia, dirigindo de volta pra casa tarde da noite após ter feito hora extra, ela parou no sinal à espera de a luz verde se acender. A rua estava deserta. Olhou para os lados e para o retrovisor para ver se alguém se aproxima. O sinal abriu. E então num impulso não dobrou a esquina em direção ao seu apartamento. Resolveu seguir em frente, rumo ao barzinho onde seus companheiros de trabalho sempre iam. Sempre a chamavam mas ela sempre inventava uma desculpa para não ir. Dessa vez resolveu aparecer. Todos ficaram muito surpresos com a chegada da "Chefe". Foi uma noite maravilhosa para ela. Jamais imaginara que pudesse se divertir tanto. Aliás, era a primeira vez que ela fazia isso em anos. Ousara até beber uns drinks.
Naquela noite, foi para casa acompanhada de um rapaz que conhecera. Todas as mulheres do ambiente estavam de olho nele, era o rapaz mais bonito que ela já vira na vida. Brilhantes olhos verdes, um rosto com uma barba por fazer que o deixava mais charmoso, bem vestido. Era um sonho. Ainda sob efeito dos drinks ela se deixou levar pelo desejo contido durante tempos. Se entregou para ele e transou como se fosse a última coisa que faria na sua vida. Como ela conseguira adiar por tanto tempo aquele desejo de liberdade dentro de si?
No outro dia, ao acordar, não se lembrava de muita coisa, mas sentiu falta de uma presença ao seu lado. Levantou-se, foi até a cozinha e lá estava ele, o deus grego da noite anterior. Então não fora um sonho. Estava vivendo o melhor momento da sua vida. Mal sabia ela que o rapaz nunca mais voltaria a aparecer e que poucas semanas depois do ocorrido, começaria a emagrecer rapidamente. Fez uns exames e na consulta com o médico só conseguira escultar duas palavras antes de o seu mundo desabar: HIV positivo.
4º final
E um dia, dirigindo de volta pra casa tarde da noite após ter feito hora extra, ela parou no sinal à espera de a luz verde se acender. A rua estava deserta. Olhou para os lados e para o retrovisor para ver se alguém se aproxima. Ninguém. O sinal acendeu e ela seguiu pra casa. Chegando lá olhou para as correspondências sobre a mesa. Cartas dos seus pais, contas a pagar. Cansada ela estirou seus pés sobre a mesinha de cabeceira. E voltou a tossir. Começou a estranhar essa tosse persistente que ela sempre sentia ao chegar em casa. Fazia mais de um mês que isso acontecia. Logo tomou um remédio e foi dormir. Depois marcaria um médico, agora estava sem tempo para aquilo.
No outro dia, voltou a tossir, dessa vez no trabalho. Sua garganta doía muito. Naquela noite em casa, tossiu sangue vermelho vivo. Na mesma hora começou a sentir um cansaço e uma dificuldade de respirar. Entrou em pânico. Ligou para a Emergência. Em meia hora estava no hospital mais próximo. Após exames, o médico sentenciou: "Câncer de Pulmão, você tem mais 6 meses de vida."
E foram os seis meses mais bem vividos por ela. Voltou para casa dos seus pais, reencontrou seus amigos de infância e da época do colégio, namorou o rapaz mais bonito da turma por quem sempre fora apaixonada, realizou seu sonho de viajar para África, doou parte da sua fortuna para empresas beneficentes, patinou no gelo, recebeu flores, deu gargalhadas, comeu sorvete, caminhou na praia de mãos dadas... foi feliz. Nos últimos dias de vida, ao perguntarem sua idade ela respondeu: 6 meses.
sexta-feira, 9 de julho de 2010
Sobre o eterno adiar
“Com certeza teria tempo depois.” Era esse o pensamento dela a maior parte do tempo, desde que completara 15 anos e resolvera ingressar numa difícil faculdade pública de sua cidade.
Começou tentando passar na tal faculdade. Estudava dia e noite, de domingo à domingo, faça chuva ou faça sol. Nunca foi de sair à noite para festas e o fanatismo pelos estudos fez com que ela se distanciasse dos colegas de sala, dificultando ainda mais sua vida social. Durante as viagens os livros sempre a acompanhavam. Namorar nem pensar. Porém ela não via naquilo um problema, sabia que estava fazendo o melhor para si, pois depois que passasse com certeza teria tempo pra fazer tudo que não fizera. Infelizmente na sua primeira tentativa de vestibular, apesar dos esforços, não passou. Focara muito no conhecimento e descuidara do psicológico. Resultado: nervosismo, má administração do tempo de prova, choro descontrolado, desastre total.
Foi um baque, mas ela superaria, dessa vez com mais estudos e uma pitada de controle emocional. Foi nessa época que começou a freqüentar o psicólogo para manter sua estabilidade emocional durante a prova. Após outro ano de abdicação e total dedicação aos estudos ela logrou êxito no vestibular. Passara em 54º lugar. Agora sim, teria tempo para fazer tudo que havia abdicado naqueles anos.
Em pouco mais de um mês as aulas na faculdade começaram. O volume de matéria era muito maior do que antes e o tempo para estudar muito menor. Fora isso ainda haviam atividades extras para incrementar o currículo: projetos de pesquisa, projetos de extensão, estágios, monitorias. A instabilidade emocional dela voltou a afetar seu dia-a-dia. Desesperava-se facilmente com a quantidade de coisas a fazer. Devido ao volume exorbitante de estudos, sempre se mantivera distante da sua turma, pois achava que perderia o foco caso se envolvesse com as pessoas da faculdade, afinal eles viviam em festas, bebiam, viajavam, alguns tiravam notas baixas, e não era isso que ela queria para si. Por isso, não tinha sequer um amigo com quem pudesse conversar, confiar segredos, rir.
“Com certeza teria tempo para tudo isso depois.” Voltara a pensar nisso. E assim levou a faculdade. Quando não mais agüentava a pressão que ela se auto impunha corria para o psicólogo e desabafava tudo que tinha em mente. Este era como uma válvula de escape.
Alguns anos nessa luta e, enfim, terminara o curso. A formatura foi linda, sua família estava orgulhosa da filha que se formara no curso mais difícil da faculdade pública mais bem conceituada do país. Ao redor todos eram só alegria, parentes se abraçando, namorados se beijando, amigos relembrando os bons tempos vividos. E ela sentada na sua mesa feliz pela sua conquista. Finalmente teria tempo para escrever a história da sua vida, iria namorar, sair para festas, viajar pelo país, conhecer gente nova, iria desfrutar da vida pela qual se privou todo esse tempo. Era essa a esperança que a movia naquele momento. Nem sequer a sua ausência nas fotos das festas da turma que passaram a ser exibidas no telão lhe causou tristeza.
Já tinha uma pós-graduação em mente ao terminar a faculdade, fora da cidade onde morava com os pais. Acabou se mudando para lá dois meses depois, indo morar sozinha no centro de uma cidade grande. Continuou difícil lidar com o tempo durante a pós. Precisava estudar muito, além de trabalhar e cuidar dos afazeres da casa. Economizava ao máximo o dinheiro para conseguir pagar as despesas. Após o término da pós, arranjou um emprego. Eram 8 horas diárias de expediente. Ela se dedicava ao máximo, trabalhava o seu expediente normal e sempre levava trabalho para casa. Era extenuante sua rotina diária, mas pelo menos estava ganhando bem agora. E pela ótima qualidade de trabalho ela era cada vez mais cobrada pelo chefe.
Em pouco tempo subiu de cargo, aumentando as cobranças sobre si. O tempo lhe era mais raro agora que tinha que gerenciar a vida de milhares de empregados. Chegava em casa todos os dias esgotada, nem férias ela conseguia tirar, pois tornara-se a engrenagem chave que movia toda a empresa, muita coisa dependia dela para funcionar.
Não via seus pais há anos. Sempre marcava a viagem e desmarcava em seguida, pois aparecia algo que a impedia de ir. Nem sequer tempo pra ligar ela tinha. Quando se esforçava conseguia mandar algo pelo correio pra eles. E os anos foram passando...
(Confesso que não terminei a história, tenho vários finais para minha personagem, no próximo post teremos os finais que pensei para ela.)
terça-feira, 22 de junho de 2010
Carta de um frustrado
E foi então que nos conhecemos. Numa época em que eu precisava de você e você de mim. E rapidamente nos identificamos, gostos semelhantes, interesses convergentes, pensamentos muito próximos. Porém geograficamente bem distantes um do outro. Mas quem liga pra isso? O que importa é o agora, vamos viver o que a vida nos reserva. E assim levamos o relacionamento dos sonhos. Sem cobranças, sem ciúmes, sem brigas. Somente com papos diários. E o que pintasse pra mim estava ótimo, pra você a mesma coisa. Só tínhamos um compromisso: o de sermos um do outro quando a hora nos chegasse. Até lá, continuaríamos nossas vidas normalmente. E isso funcionou. Durante um tempo...
Chegou o dia que todos os meus pensamentos eram seus. E minhas atitudes eram pra você. Meus sentimentos se fortaleceram a ponto de o “viver a vida normalmente” significar “viver a vida com você”. Desejos nasciam e eram reprimidos. O tempo e o espaço eram meus inimigos. Meus compromissos foram ficando de lado, enquanto os seus compromissos foram me deixando de lado.
E as conversas não eram mais as mesmas. Primeiro uma ceninha de ciúmes. Depois uma discussão sem motivos. Constatações pessimistas se firmando numa mente castigada pela vida. O amor nunca é a soma de dois iguais. Foi difícil admitir que a parcela recebida por mim era menor do que a ofertada. E a carência só piorava a situação. O silêncio me fazia sofrer.
Por que não fechar os olhos para a indiferença? Foi o que tentei por um tempo. Até que a Terra completou seu ciclo em volta do Sol e a omissão e o descaso apunhalaram meu coração. Teria que tomar uma decisão. Ou isso continuava e eu me afogava em frustração, ou eu acabava com o que um dia foi perfeito. Não foi fácil seguir em frente. Tentei ser indiferente também. Não consegui por muito tempo.
Tentei outras estratégias. Afastei-me, ignorei, pintei de cão, procurei em outras pessoas você... Nada funcionou por muito tempo. Meu orgulho nem existia mais. Expulsei e deixei você voltar várias vezes pra minha vida. Quando não mais forças tinha pra te expulsar resolvi conviver contigo e reprimir esse sentimento não compartilhado. Foi difícil. É difícil. Será difícil.
Nada disso é do teu conhecimento. Talvez nem do teu interesse. É por isso qie você não me merece. E apesar de eu ainda gostar de você e ainda pensar em você, tiro forças, não sei de onde, para suprimir todo esse sentimento. Não é fácil, mas noto que a cada dia eu estou um passo a mais na sua frente. E você está ficando pra trás.
Dos erros cometidos por mim não sei se extrai o conhecimento certo. Mas superficialidade está sendo a tendência na minha vida. Obrigado por me proporcionar tal aprendizado. Tenho sofrido bem menos desde que decidi assim ser. Boa sorte.
segunda-feira, 14 de junho de 2010
Eu odeio o dia dos namorados - O Retorno
E já que alguns poucos gatos pingados que lêem meu blog resolveram me chamar de mal-amado devido ao último post, aqui vai um post especial para os solteirões no dia dos namorados.
Para quem está solteiro o dia dos namorados é um dia que seria melhor se ele tivesse sido extinto do calendário. Uma data tão doce que chega a ser diabetogênica. Especialmente nesta data as pessoas estão mais carinhosas, mais românticas, acreditando no príncipe encantado, dando bom-dias com sorrisos patéticos estampados no rosto, cantando no chuveiro. Isso as outras pessoas, não você solteiro. Você solteiro acorda tarde no dia dos namorados. Quanto mais rápido o final do dia chegar mais livre da pseudo-felicidade alheia você estará.
Aliás, você acordaria tarde caso a sua vizinha chata não ligasse o som a toda altura com as músicas mais românticas da rádio. Sim, porque no dia dos namorados não se toca outra coisa que não uma música romântica. As músicas de repúdio ao sistema, de conscientização política, estão proibidas neste dia. E todo mundo liga pra rádio pra oferecer aquela música para alguém especial. Os anúncios das rádios são de floriculturas, restaurantes românticos, festas de dia dos namorados. É com isso que você é acordado no dia dos namorados. Começou o abuso.
Depois vem a chatice de ver todos os seus amigos saindo com as namoradas e você ficando em casa. É preferível ficar em casa mesmo, os restaurantes estarão lotados de casais se abraçando e se beijando e comendo, os cinemas estarão lotados de casais se abraçando e se beijando e se comendo... livraris, lanchonetes, barzinhos, shoppings, em todos os cantos eles estarão estragando a visão. E isso só vai piorar a situação crítica em que você se encontra: no auge dos seus 25-30 anos e não arranjou ninguém que lhe suportasse por mais de meia hora. Melhor não pensar nisso.
Você então pede comida pelo telefone, porque afinal, pior que dia dos namorados só o dia dos namorados cozinhando o almoço.
- Alô? Gostaria de pedir uma quentinha por favor.
- Bom dia senhor, nós estamos com uma promoção sensacional. Você pedindo duas quentinhas, uma pra você e outra pra sua namorada, você ganha um refrigerante de 600ml. Vai querer?
Maldito seja o marketeiro dessa marmitaria ‘fia duma égua’!!! Primeiro de tudo, será que alguém em sã consciência vai pedi uma quentinha para si e para a namorada no dia dos namorados? Brochante. Nessa hora você respira fundo e responde educadamente à moça:
- Não, gostaria de pedir só uma mesmo.
Quando na verdade, no auge do abudo de dia dos namorados, você quereria falar:
- Sua jegue, qual parte do “gostaria de pedir UUUMMMAAA quentinha” você não entendeu? Será que vocês da marmitaria tem algum distúrbio mental? Promoção de dia dos namorados numa marmitaria?! Ah, me poupe né minha fia, vá arrumar um namorado vá”
E então desligaria o fone rapidamente antes que pudesse ouvir da atendente da marmitaria que até ela já tem namorado. Abuso continua. É melhor você ir até a padaria e comprar algum salgado, lasanha, qualquer coisa que já esteja pronta. Chegando lá você olha para o balcão. Bolos em formato de coração com escritos EU TE AMO, decoração romântica pelas paredes, atendentes vestidas de vermelho, promoções e mais promoções... Então você vai até o balcão e pede UM salgado com UM copo de suco (ênfase no UM), sem promoção. Intrigada a atendente lhe atende. Você vai sentar e então vem a atendente minutos depois com o seu salgado pronto numa bandeja. Qual não é a surpresa ao ver o brinde de dia dos namorados que a padaria estava ofertando: um chaveiro de um casal se beijando. Abuso novamente.
Volta pra casa e resolve ir ver televisão. Quem sabe consegue voltar a dormir e o dia acaba. Liga a TV e está passando Meu Primeiro Amor. Abuso gigante. Zapeia pelos canais. Programas de namoro, de reencontros familiares, de casamentos. O jornal só passa as floriculturas e shoppings lotados. Os filmes mais melosos do mundo. Até os programas policiais de mortes estão aderindo a causa do dia. Namorado esfaqueia namorada por ciúmes, namorada se suicida ao terminar namoro, pai é morto pela filha que se apaixonou por ele. É demais para qualquer solteiro agüentar isso. Tá amarrado três vezes, em nome de Jesus, sangue de Iemanjá tem poder. E a tarde está se findando quando sua mãe percebe que você não saiu de casa e fala:
- Meu filho, você não vai sair hoje não? Dia dos namorados não é dia de ficar em casa.
Como se não bastasse você se cobrando uma namorada, ainda tem o dia lhe cobrando uma namorada e sua mãe também. Resolve seguir os conselhos dela e termina a noite na balada. Vai pra festa onde todos estão na mesma situação que você, desesperados por um relacionamento. Impossível terminar a noite só. E conhece uma aqui, conhece outra aculá, troca telefones ali... No final da festa, você ficou com várias, pegou o contato de todas. Foi muito bom conhecer tanta gente carente e suscetível. Porém o dia dos namorados acabou. No outro dia, a cobrança que você tinha sobre você desapareceu junto com o dia dos namorados. Então você volta a ser o solteirão sem um pingo de vontade de se relacionar com ninguém... até o próximo dia dos namorados.
sexta-feira, 11 de junho de 2010
Dia dos namorados
Para você que é homem, acorda cedo no dia dos namorados, tem toda uma programação arquitetada na cabeça de como será o dia. Vai primeiro lavar o carro, depois toma um banho de 10 minutos, tira a barba e corre pra casa da namorada. Se for mulher, vai ter que acordar mais cedo ainda e preparar todo o arsenal para a chegada do namoradão: depilação total, prancha/escova/alisamento no cabelo (pintar se preciso for), pintar as unhas... tudo isso antes dele chegar.
Ocorre então a troca de presentes. Ele nunca entende as necessidades da namorada e dá uma lingerie vermelho puta que grita "trepe comigo esta noite", um buquê de rosas e um chocolate em formato de coração com os dizeres EU TE AMO. Ela sorri, agradece, dá um beijinho nele e enquanto isso pensa: "Viado! Estou uma gorda baleia, não vou usar isso nunca, porque que ele não deu isso pra mãe dele? E o chocolate? Estou na dieta da VACA (comendo grama) há um mês e esse baitola vem e me dá essa droga de chocolate deliciosa. Jesus me conceda o prazer de emagrecer 10kg pra caber nessa lingerie. Ele quer ver meu cu mastigando essa calcinha, mas desse jeito ela não passa nem na minha cintura. E esse buquê de rosas? Amanhã eles apodrecem, pra quê que eu quero isso? LIXO!" Daí, ela entrega o presente dela pra ele, um kit numa cesta com uma caneca do time predileto dele, um perfume, conjuntinho toalha-sabonete-creme de barbear e uma carta romântica escrita à mão. Ele sorri, agradece, dá um beijinho nela e pensa: "Vadia, gastei fortunas com a lingerie e ela vem e me dá conjuntinho toalha-sabonete-creme de barbear. Com certeza o pai dela ganhou isso em algum bingo para idosos e ela roubou e está me dando. E essa colônia barata? E essa carta? Serve nem pra limpar o cu porque é duro demais e arranha. A única coisa que eu gostei foi dessa caneca do meu timão." Ou seja, não adianta, você nunca acertará o presente certo que o seu namorado quer ganhar. Se você perguntar talvez você acerte, porém quem é que pergunta qual o presente ele quer ganhar? Vai estragar a surpresa. E assim começa o grande dia dos namorados, ambos chateados com os presentes, mas iludidos com o que ainda pode acontecer de bom naquele dia.
E então rumam para o almoço do dia dos namorados. A cidade inteira resolveu se refugiar nos restaurantes. Se o cara estiver tentando agradar a garota ele a leva para o Self-Service. Fila quilométrica, comida gelada, preparada às pressas para suprir a fome insaciável do povão. Se você não for pro Self-Service você vai ter que ter rezado 10 terços e feito uma novena inteira nos 5 dias anteriores pra conseguir um canto pra se sentar e depois que se sentar conseguir um garçom livre pra lhe atender. Você escolhe aquele prato especial do dia dos namorados que custa 169.99 e chora sangue por dentro por causa do preço. Daí vem a pior parte, a espera. Duas horas depois talvez eles estejam preparando o seu prato. Com muita sorte o garçom não errará de mesa e entregará o pedido pro casal certo (são todos iguais). Pronto, agora estão alimentados finalmente.
Depois do almoço, tem aquele cineminha pra vocês ficarem mais juntinhos, poderem namorar um pouquinho escuro, aquele clima romântico... Chegando lá se depara com uma fila filha da puta. Bobagem, o que importa é estar junto de quem se ama. Enfrentam a fila bravamente e na hora de comprar ingressos pro filme Romance Eterno dos Amantes Apaixonados você descobre que acabaram os ingressos e que só tem ingresso disponível para o filme Guerra Infernal Sangrenta. Fazer o quê, já que estavam ali o casal topa assistir ao filme, o que importa é que possam namorar um pouquinho no escuro, estar juntos aquele dia. Entram na sala e se deparam com centenas de casais que tiveram o mesmo azar que você de chegar atrasado. Porém eles pelo menos estão juntos. Depois de 20 minutos de busca frustrada por assentos vizinhos o casal desiste e assiste ao filme distantes 9 cadeiras e 2 fileiras um do outro. O filme era uma chuva de sangue só. A quantidade de sangue jorrado durante o filme era desproporcional à quantidade de pessoas que atuaram nele. Aquele ali nunca ganharia um Oscar. E então o namoro no escurinho vai por água abaixo da pior forma possível, com casais se beijando ao redor e gritos e gemidos (não é isso que vocês estão pensando) de pessoas mortas na guerra do filme.
Ainda tem o jantar do dia dos namorados, será igual ao almoço, com a diferença que demorará mais ainda.
E pra terminar a noite, a passadinha no Motel. Logo na entrada, fila pra entrarem os carros. Está lotado lá dentro, então espere na fila pela sua vez. Parece Drive Thru, faz o pedido, pega e vai embora comer em casa, com a diferença que no motel você come o pedido antes de ir pra casa. E depois da espera você finalmente adentra aquele quarto. O cheiro de Desinfetante com Bom Ar para disfarçar o cheiro de sexo do ar. Sinto pena das arrumadeiras de Motel no dia dos namorados. Elas devem trabalhar muito, precisam fazer a mágica de desaparecer todos os vestígios do casal anterior para o casal precedente vir e aproveitar o fim do dia dos namorados. O casal faz o bem bom em uma hora e as arrumadeiras desfazem tudo em poucos minutos. Imagino elas entrando nos quartos correndo com vassoura, pano de chão, desinfetante, rodo... internamente elas gritam: xô AIDS, xô sífilis, xô herpes, xô DSTs, xô camisinha lotada, xô xô xô... Elas deveriam trabalhar com roupas impermeáveis completamente fechadas, ali se pega vírus até pelo ar. Prefiro trabalhar com radiação. E imediatamente elas correm embora do quarto, pois o próximo casal está chegando pra ocupar. Mas voltando para o fim do dia do casal... finalmente o momento tão esperado, a trepa básica de fim de noite no Motel. Ela doida pra que ele repare na depilação a laser que ela fez naquela manhã, que repare na calcinha engolida pelo cu que ela está usando desde o início do dia (deve estar toda assada certeza), que ele repare em qualquer coisa nela... O máximo que ele faz é tirar a roupa dela rapida e rudemente e soltar as palavras mágicas: GOSTOSA. Pronto! Ambos enlouquecem fazendo amor rapidamente, pois precisam terminar o serviço em 30 minutos (lembrando que a tabela de preços do motel aumenta em datas comemorativas). No final, a calcinha está imprestável para se usar novamente, o ato acaba tão rapidamente como começou e eles se arrumam como podem, pois o dono do estabelecimento já bateu na porta do quarto gritando CINCO MINUTOS. E então eles saem em disparada corredor afora. E a arrumadeira corre quarto adentro.
E assim acaba o lindo dia dos namorados.
quarta-feira, 9 de junho de 2010
... e ela me faz tão bem que eu também quero fazer isso por ela...
* Ela também chegou a ser uma princesa. Eu fui um porquinho que perdia a casa e ia morar na Aldeota. E tinha uma chapeuzinho vermelho e um bruxo chamado Malvadiel. E íamos nos apresentar para uma super platéia de crianças nossa super elaborada história. Não lembro de ter visto tanto público assim. Mas foi divertido, tirando a briga por causa das roupas.
* Ela era sempre o primeiro lugar da sala, alimentando minha frustração de segundo lugar desde que me entendo por gente.
* Ela respondeu a pergunta mais difícil do Hevertinho sobre Botânica (acho que era O que são espermatófitas), salvando minha equipe do fracasso total.
* Ela foi pra turma especial comigo. Tá certo que ela nem gostava do povo, mas eu acredito que eu era uma das pessoas que ela ainda tolerava. Apesar de neste ano termos tido nossa primeira briga, sabe-se lá porque. Sei que ficamos sem nos falar um tempo, mas no final tudo se resolveu.
* Mentira! No final nada se resolveu. Levamos bomba no vestibular. E eu acabei indo parar em outro cursinho. Passamos um ano separados, nos vimos praticamente 4 vezes durante o ano inteiro e eram encontros meio que distantes. Nada era como antes, mas eu acreditava que no final as coisas se resolveriam.
* Mentira denovo, as coisas não se resolveram no final, levamos outra bomba no vestibular. Mas finalmente eu pude voltar a estudar com ela. E então as coisas voltaram a se encaixar, voltamos a nossa amizade de com força.
* "Odeio seus amigos novos!" - frase dita pelo menos uma centena de vezes aquele ano. Conheci novas pessoas (maravilhosas por sinal), mas ela não queria de jeito nenhum que eu me apegasse a mais ninguém. Possessiva!
* Esperar ônibus nunca foi uma coisa divertida, mas esperar o 625 - Parque Manibura Borges de Melo com ela na praça do BNB era ótimo. E comer batatinhas fritas encharcadas de óleo do tio era ótimo também.
* E ela é a melhor interpretadora que existe. Interpretou a abertura de A Favorita, interpretou Do Sétimo Andar, interpretou Bad Romance...
* Ela me dava conselhos amororos, porque numa certa época acabei me apaixonando, não dizia por quem, mas ela lia pensamentos. E dizia que minha alma gêmea era outra, que um dia ainda terminaríamos juntos.
* E nossas famílias apostavam no nosso namoro. Acredito eu que até hoje eles ainda guardam aquela torcida. Um dia quem sabe...
* E ela tinha o Murilo e o Venâncio pra diminuirem a solidão dela. E ela ainda pensa que eu não ajudei a dá-los. Segredo: eu ajudei sim.
* Ela fez um M na minha cabeça quando eu passei.
* E no terceiro dia, Jesus não ressuscitou. NÓS RESSUSCITAMOS.
* Ir pra praia à noite pode até parecer o convite para a sacanagem... E era. Ela levava a canga, a gente se deitava em cima e ela começava a contar as coisas mais cabulosas que já tinha feito. E eu bolando de rir. E ela com ódio porque eu não contava nada.
* Viciei ela numa banda que estava com os dias contados. E ela me culpa eternamente por gostar de uma banda e nunca ter podido ir a um show deles.
* E daqui a exatamente 10 anos, dependendo das condições amorosas dos agentes envolvidos, ela estará gerando nosso filho.
* Ela me ensinou a encher o pneu do meu carro. E vive me chamando de barbeiro, mas pelo menos não fui eu que dirigi com o freio de mão levantado e com os faróis apagados em plena BR-116. Nem bati no estacionamento do Iguatemi. Ah claro, foi a parede que veio pra cima do carro...
* Ela é doida pra vir aqui pra casa, eu prefiro a casa dela, ela é doida pra ser igual a minha mãe, eu sou doido pela sobremesa da mãe dela, minha vó é a vó dela, ela me secretaria (ou secretariava) junto aos plantões do irmão dela (inclusive graças a ela poitei a formatura dele), ela é tia do meu afilhado...
* Passamos por tanta coisa juntos que poderia passar horas escrevendo. Mas vou ficar por aqui, pois preciso pensar em alguma coisa pra dar pra ela. Afinal, o analista de sistemas embaçou todos os meus presentes. Esses são apenas resquícios do que fomos, do que somos e do que seremos.
sexta-feira, 4 de junho de 2010
Sonata da Monotonia
E ela não tem muitas pretensões na vida. Agrada a ela o fato de ser uma profissional medíocre. Medíocre para muitos pode ser um insulto. Não para ela. Não pretende ser notada. Quer ser mais um parafuso que faz funcionar a enorme máquina. Não leva trabalho pra casa. O que deve fazer no trabalho faz no trabalho. Nem mais, nem menos. Nem elogios, nem broncas. E no final do expediente vai pra casa. Mora só. Não tem namorado. Apenas um cachorro. Ligeiro passeio pela rua com o cachorro. Anda o suficiente. Fez cocô, fez xixi, volta pra casa. No caminho nada demais. Bêbados e prostitutas. No aconchego do lar esquenta a comida. De ontem? Anteontem. Não importa. O gosto está tão ruim quanto no dia. A pia acumula mais um prato, mais um garfo. E a geladeira acumula o resto da comida. Vai pro banho. Sai do banho. Veste a camisa larga dele. O cheiro dele impregnado. Deita no sofá. Liga a TV. Fecha os olhos e torce pra dormir antes de 4 da manhã. Notícias, filmes, riscos. Tudo passa na TV. Só o tempo não passa. E o calor. Depois de horas ela se levanta. Prepara um banho quente. E um leite gelado. E volta a deitar. E na hora sagrada enfim desfalece. Sonhos. Pesadelos. 2 horas depois acorda. Telefone. "Alô? Não, não tem ninguém aqui com esse nome." Adeus son(h)o. Respira fundo e vai se arrumar. Não pode chegar atrasada ao seu trabalho medíocre. Tem de ser medíocre só mais hoje. Só mais um dia.
quarta-feira, 2 de junho de 2010
24 HORAS
Os acontecimentos a seguir ocorrem entre 00:00 e 8:59 do dia 31 de maio de 2010.
00:OO - O que ainda falta? Artrite Reumatóide, Cushing, Addison, Osteoporose, Osteoartrose, Diabetes, Artrite Idiopática Juvenil, Hiperprolactinemia, Tumores hipofisários e Câncer de tireóide. Ah, ainda é meia-noite, claro que dá tempo. Vamos concentrar e continuar.
1:00 - Hum, interessante essa tal de Artrite Reumatóide, uma poliartrite de pequenas e médias articulações, com rigidez matinal maior que uma hora, deformante, com nódulos reumatóides, podendo complicar com vasculite... Bacana. O que vem agora? Ah, Osteoporose... Ufa, terminei essa osteoporose, rápido, não perde tempo, Tumores hipofisários MODE ON.
2:00 - Eita dor nas costas feladaputa. E essa luminária ainda tá sem a luz (quebrei a lâmpada nova tirando da caixa), tô ceguin. Vamos continuar, falta pouco, Artrite Idiopática Juvenil... Que saco, não tem onde estudar isso, não tem no livro. E agora? Pula, Hiperprolactinemia agora... Putz, que chata essa matéria... e que sono. Falta pouco, paciência.
3:00 - O que será que está passando na TV agora? FOCO ERLON, DIABETES. Tô cheio de séries no laptop, podia descansar um pedacinho e assistir um episodiozinho de Grey's Anatomy. FOCO ERLON, DIABETES. Tá, Grey's Anatomy não que é muito longo o capítulo, mas The Big Bang Theory são só 20 minutinhos, não vai mudar nada e vai dar tempo de terminar a matéria. Vou só terminar esse parágrafo e... kkkkkkkkkk muito bom esse episódio, esse Sheldon é uma figura, mata-me de rir. Voltemos agora para Diabetes. Ow capítulo medonho.
4:00 - Então o que você perscreveria para um paciente com uma poliartrite com exame laboratorial de anti-CCP positivo? Insulina, pois é um corticóide que quando usado cronicamente pode dar Doença de Addison. Tumores hipofisários podem comprimir o quiasma óptico e resultar num hiperparatireoidismo. Isso pode ocasionar amenorréia, galactorréia e virilização, mas é facilmente tratada com rituximab. Tão bom saber que estou entendo toda a matéria. Apesar do cansaço vou continuar, está sendo totalmente efetivo esse estudo, vou só ali comer algo... Hm, ovos, com pão dormido (literalmente ele deve estar dormindo mesmo, a esta hora só eu ainda pelejo), queijo, manteiga, bolacha Cream Cracker, capuccino... Puta que pariu! Derrameu capuccino em cima do livro novo de Endocrinologia da biblioteca. Eita caralho! Perde tempo não, pula esse capítulo demoníaco de Diabetes. INFERNO!!!
5:00 - FUDEU! Não vai dar tempo, puta que pariu. Quem trata Osteoartrite? Quais os critérios diagnósticos do LES? Qual o adenoma mais prevalente na acromegalia? Tá tudo se misturando na minha cabeça. E não vai dar tempo de terminar a matéria (pra variar), vou tirar nota baixa (pra variar), vou passar o dia com sono. CACETE. E o pior. Tá chovendo, pra que clima melhor pra dormir? Ai ai ai, #putafaltadesacanagem. Vou folhear os livros pra ver se alguma coisa pula lá de dentro pra minha cabeça... Vaila, acordei, estava dormindo em cima do livro, até babei a folha do livro. Eita, o mesmo livro de Endocrinologia novo da biblioteca. Tinha capuccino, agora tem baba, vai começar o processo digestivo nas folhas, quando eu entregá-lo mais tarde vai estar todo corroído. Caralho, tá amanhecendo, tem jeito mais não.
6:00 - Pronto, chegou a hora de parar e admitir que eu vacilei, deveria ter estudado mais, não ter acumulado a matéria, ter assistido menos séries, ter saído menos e todo aquele papo de gente arrependida. MERDA! Não adianta nada se lamentar, é levar bomba daqui a pouco e se preparar pra próxima. Dessa vez eu vou mudar e estudar mais (Jura! Hanran, senta lá Cláudia). Relutantemente vou fechar esse livro e tomar banho. Passar a madrugada estudando, amanhecer com a certeza de não saber de nada, com as costas doendo, os olhos ardendo, só um banho gelado pra piorar mais ainda. Ah, e tá chovendo... Escovando os dentes... Tomando um copo de leite... Me arrumando... Ainda bem que parou de chover, não gosto de levar guarda-chuva, se perco celular sem ver nem pra quê, imagine guarda-chuva... Opa, o que foi isso? Uma gota de chuva? Não começa São Pedro, fica na tua e para de cuspir em cima de mim. Acho que ele ficou com raiva desse pensamento blasfêmico. Aos poucos começou a tertulha lá no céu. Só mais alguns quarteirões (5) até chegar à parada. Não vou correr, a chuva ainda tá fraca, dá pra pegar essa chuvinha bexta até lá. Só vou ter que tomar cuidado com esse livro, sim, o mesmo livro de Endocrinologia novo da biblioteca sujo de capuccino e baba e agora molhado pela chuva... Ufa, cheguei na parada, óculos invisualizável, cheio de pingos, camisa úmida, mas nada demais, agora é esperar o ônibus, ou quem sabe uma carona.
7:00 - Finalmente meu ônibus chegou, pelo menos não vou chegar atrasado à prova e essa chuva vai parar quando eu chegar lá. Lotado o ônibus. Tem coisa pior do que acordar cedo, num dia de chuva, pegar ônibus e ele vir lotado? Pior que isso só se você não acordar, igual eu, já que eu nem sequer dormi... É, viva o pensamento positivo (¬¬'), olha o toró maior do universo que tá caindo? Vou ficar aqui esperando essa chuva forte passar... Parece que ela não vai dar trégua, já são mais de 7:30 e essa chuva não passa, minha prova é pra ter começado já... E ainda tem esse livro da biblioteca pra cuidar, se bem que ele já tá tão sofrido. Posso até colocar ele na minha cabeça pra proteger pelo menos meus óculos dos pingos de chuva que me cegam... Pronto, é agora, a chuva deu uma aliviada, vou aproveitar que o sinal está fechado e vou atravessar a rua e ficar protegido na guarita em frente a faculdade. CORRE POBRE! E a chuva resolveu castigar nos 50 metros que tive que percorrer. Claro, reparei tarde demais que correr é pior que andar. Andando a gente pega chuva de cima, correndo a gente pega a chuva de cima e pisa com força nas poças do chão e elas sobem bem em cima de você, principalmente quando as poças passam do tornozelo (como era o caso). Enfim, cheguei ao destino meio molhado, mas o livro ainda conservava suas folhas, ele não tinha se desintegrado (ainda!). E o caos pela cidade. Os carros passavam com água na altura do pneu, um até parou no meio da rua. A correnteza cada vez maior, os carros jogando água pros lados. E foi quando eu vi o portão de entrada da faculdade. Água na altura do meio da perna, com direito a correnteza. Show, já que o livro da biblioteca estava já todo molhado, sujo de capuccino e de baba, eu bem podia tentar subir em cima dele e sair surfando. Era uma boa. E a prova já devia ter começado. E eu ainda tinha que percorrer o maior percurso de todos sem um localzinho onde pudesse me proteger da chuva... Não dá mais pra esperar, vou correr o mais rápido possível, talvez sobreviva. Chegando ao portão de entrada fui lutar contra a correnteza, ela me carregando, se não tivesse uma prova e um livro novo nas mãos eu me deitava agora mesmo nessa poça d'água e esperava ela me levar até sei lá onde. E a chuva castigando. Senti os olhares do povo sobre mim, senti a angústia deles, todos estavam torcendo para que eu sobrevivesse àquela epopéia, imaginei até eles batendo palmas para mim quando chegasse do outro lado com vida. Pra falar a verdade o povo deve ter rido muito daquela putaria toda, um idiota na chuva com um livro na mão correndo/nadando/sendolevado. Mas como dizia Murphy, ainda pode piorar. A chinela, não satisfeita com minha situação crítica naquele momento, resolve se soltar do meu pé e ser levada. Dei meia volta e corri atrás da chinela. Pelo menos agora eu estava a favor da correnteza, foi fácil. Dou um mergulho, alcanço minha chinela lá no fundo da poça e calço denovo. Recuperada a chinela e passada a fase "Piscina com correnteza" só me resta agora correr, correr muito... É, viva a minha boa forma, estou ofegante, atrasado para a prova, completamente ensopado. Tô com pena é desse livro aqui. Criamos toda uma história, um envolvimento, uma relação leitura-leitor holística, mas graças a Deus vou devolvê-lo. Ele é muito pesado para eu ter que trazê-lo novamente outro dia... Muito lindo, a biblioteca não está funcionando hoje. Deu goteira e os livros foram todos molhados. kkkkkk Pelo menos não foi só o meu que pegou chuva. Ruim é ter que levar esse livro deste tamanho de volta pra casa. Tomara que pare de chover.
8:00 - UFA! Ainda bem que a prova não começou ainda... Eita começou a prova... Caralho que prova demoníaca... Puta que pariu, que matéria é essa?... Eita, tem gente pescando... Hm, que sono bom... Existirá vida após a Medicina? Durante eu sei que não existe, mas e após? Acho que nem Jack Bauer sobreviveria a isso, ele prefere desarmar bombas, prender a máfia russa, descobrir traficantes de drogas, salvar o presidente dos EUA e salvar o mundo, do que passar por essa peleja. FOCO! Qual o tratamento do Lúpus mesmo? Octreotide?
quarta-feira, 19 de maio de 2010
Pessimismo Adquirido
Pessimismo [De péssimo + -ismo] S. m. 1. Disposição de espírito que leva o indivíduo a encarar tudo pelo lado negativo, a esperar de tudo o pior. 2. Doutrina segundo a qual o mal predomina sobre o bem, valendo mais o não ser do que o ser.
Bem, hoje não tentarei comprovar nada, nem contarei história alguma, apenas mostrarei aos leitores uma faceta deste que vos escreve e falarei os motivos por ser assim, PESSIMISTA.
Primeiramente, para os otimistas de plantão que dizem que pensamentos bons trazem boas coisas... MORRAM! Por que vocês não pulam de cima do viaduto do Chá e caem na frente de uma caçamba de lixo? Esse negócio de pensamentos bons é coisa de livro de autoajuda, é papo de discurso de donos do poder, querem que tudo vai dar certo e que basta pensarmos positivo. Se pensamento positivo atraísse coisas boas bilhares de pessoas já teriam ganho na Mega Sena. Ou será que os apostadores da Mega Sena fazem suas apostas pensando: "Que bobagem, vou perder mesmo, mais alguns reais gastos com besteira, meu filho está com fome, minha mulher doente, minha família está falida, mas eu sei que não vou ganhar esse prêmio de X bilhões de reais e ainda assim vou gastar o dinheiro do leite."
Fora que um pensamento positivo pra mim pode ser um pensamento negativo pra outra pessoa. Então quem julga qual pensamento é melhor? Pelo mesmo exemplo: se eu quero ganhar na Mega Sena e estou pensando positivo, meu vizinho da fila com certeza está pensando que eu sou um fela da puta que vai concorrer pra tomar o dinheiro dele. Quem vai atrair a coisa boa? Quem pensa mais forte? Ou um pensamento negativo anula um positivo?
Dito isso, agora vem a melhor parte, as reais vantagens de se ser pessimista. Começo perguntando "e quem não gosta de surpresas?" Vamos lá conversar.
A regra é não esperar nada de ninguém. Tu acabou de conhecer uma pessoa e gostou de cara assim dela, tipo os astros estavam alinhados, as borboletas voaram dentro do estômago e os sininhos tocam quando você está perto da pessoa. OK! Tu começa a criar expectativas por aquela pessoa, torce pra dar certo vocês ficarem juntos, beleza. Vai formando toda uma imagem de vocês num futuro não tão distante, sonhando com casamento e filhos e velhice juntos. Porém, algo saiu dos rumos e a pessoa não gostou de você, ou ficou com você e depois te largou, enfim, os planos não saíram como planejado.
O otimista se decepcionaria, frustração gigantesca, chora, fica com raiva por ter criado expectativas em vão, tinha apostado tudo naquele relacionamento que não deu certo. Quem ele deve culpar por isso? A outra pessoa que não tava afim? Ela não era obrigada a querer, logo a culpa é do bobão otimista. Quem manda ficar elocubrando? Já o pessimista não, ele não esperava nada daquela pessoa, simplesmente gostou da pessoa, foi atrás e talz, mas sem pretensões, se der certo deu, se não der certo paciência. Não criou historinhas românticas na cabeça, nem tava muito ligando pro que aquela pessoa viesse a oferecer. Se não der certo ele vai saber lidar bem melhor com a situação do que o bobão do otimista, afinal já era o que ele esperava daquela pessoa. Caso dê certo é uma surpresa e como eu falei "quem não gosta de uma surpresa?" E isso me faz um ultra adepto da Lei de Murphy: se alguma coisa tem de dar errado ela vai dar errado certeza. Caso dê certo foi azar do destino.
Vão dizer que me decepcionei com meia dúzia de pessoas e que por isso criei esse mecanismo de defesa. Sim, acertaram. Quem gosta de se frustrar com as pessoas? Vão dizer que se eu continuar pensando assim nunca vou buscar meus objetivos porque já sei que vou fracassar. Não, erraram. Continuo buscando, porém sem pretensões. O que conseguir me surpreenderá de qualquer forma, pois eu não esperava conseguir, o que eu não conseguir seguiu apenas o curso natural das coisas.
E se disserem que eu tô revoltado vão tudin tomar no c***
^^
That's all.
domingo, 16 de maio de 2010
Ensaio sobre a hermenêutica da beleza e da feiúra: um estudo cartográfico de bases epistemológicas
INTRODUÇÃO: Visualizando seres humanóides e tendo conhecimento prévio de sua natureza biológica e necessidades fisiológicas torna-se de fácil entendimento o conceito de propagação da espécie. Em outras palavras, sempre há alguém desejando um outro alguém. O modo como se processa esse ato de conquista é cativante. Diversas são as maneiras de se chegar ao destino final. Uma delas foi teorizada por Carl Von Erlineu. Nessa teoria o autor expos um quadro típico da psicologia humana implícito em atitudes subliminares de comportamento diante de alguém cujo interesse fosse maior do que simplesmente a amizade. O teórico expunha situações onde sempre havia alguém de beleza incontestável em companhia de alguém de beleza duvidosa na luta por uma parceria amorosa, em outras palavras, o Bonito e o Feio andam juntos na busca de um bem comum, no caso alguém com quem eles possam ter um relacionamento futuro.
OBJETIVO: Analisar uma das teorias básicas da corte humana, a Teoria do Amigo Bonito e do Amigo Feio. Comprovar a veracidade dessa teoria. Teorizar sobre as possíveis causas desse fenômeno.
METODOLOGIA: Estudo exploratório analítico descritivo cujo explorador, através de uma observação não participativa, analisou comportamentos humanos diante de seres da mesma espécie quando no ato de conhecer um aspirante a um relacionamento futuro em potencial. O estudo foi realizado nos anos de 2005 até 2010 em calouradas da Medicina, shows, barzinhos e aniversários, com um grupo de 1000 duplas de amigos, um bonito e o outro feio, de acordo com o Critério de Beleza e Feiúra, contido no estudo de Marie Von Willebrand.
RESULTADOS: Em 67% das duplas formadas por Amigo Bonito e Amigos Feio, ambos os participantes das duplas atingiram o objetivo final, enquanto em 23% apenas o Amigo Bonito se deu bem, em 10% nenhum dos amigos se deu bem. Não houve relatos de casos onde apenas o Amigo Feio se deu bem. Em calouradas da Medicina a taxa de sucesso foi de 82%, em show foi de 50%, em barzinhos de 20% e em aniversários de 3%.
CONCLUSÃO: Devido a alto índice de sucesso comprovado nas observações de duplas de Amigos Feios com Amigos Bonitos comprova-se a veracidade da Teoria de Carl Von Erlineu. É até aconselhável se você se encaixa nos critérios de Beleza ou de Feiúra contidos no estudo de Marie Von Willebrand andar sempre com alguém de característica oposta a sua, pois sua chance de sucesso em tais festas é quase de 100%. Há que se ressaltar também que esse estudo foi feito nos lugares especificados na metodologia, porém pode-se estender-lo para qualquer outro agregado populacional onde hajam humanóides em busca de relacionamentos. Após extensa busca em artigos relacionados e extensa busca de sinais em comum com as duplas de amigos, desenvolvi uma teoria.
Teoria para explicar a Teoria do Amigo Bonito e do Amigo Feio: Amigos Bonitos andam com Amigos Feios porque quando vistos pela presa em potencial lado a lado sua beleza fica realçada ao extremo. Assim como amigos feios andam com amigos bonitos pois veem nessa situação a única oportunidade de terem presa empotencial bonitas por perto. Exemplificarei com uma situação de dois amigos um bonito e um feio e duas meninas (as presas em potencial).
Na cabeça do Amigo Bonito está: "Sou bonito, minha beleza está realçada pelo meu amigo feio, quem olhar pra nós dois vai passar mais tempo olhando para mim." Na cabeça do Amigo Feio está: "Sou feio, mas meu amigo é bonito, logo ele vai conseguir alguém bonito e eu vou conseguir alguem bonito que está acompanhando o outro alguém bonito que está com o meu amigo bonito." E na cabeça da menina está: "Olha que gato. Olha o amigo feio dele, tadinho. Vixi, a minha amiga está olhando para ele também, preciso agir rápido pois senão vou acabar com o amigo feio dele. Vou agarrar o bonitão." E assim a situação termina, com o Amigo Bonito pegando a menina, a amiga fica sobrando, se ela estiver desesperada ela pega o Amigo Feio, se ela não estiver desesperada ela fica amiga do Amigo Feio. Já o Amigo Feio ganha duas Amigas lindas. É uma relação onde todos saem ganhando, talvez apenas a amiga solitária não saia ganhando tanto.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
O menino da bolha (parte III)
“Já chega dessa timidez, preciso fazer alguma coisa.” Na semana seguinte, lá foi ele todo confiante, abriu a porta, caminhou para a mesma seção de CD’s. Pegou um CD qualquer, foi até o balcão e jogou um saco com algumas notas de dinheiro dentro e saiu correndo da loja. Seu coração quase pára de bater na metade do caminho até
Semana seguinte... Lá foi ele comprar outro CD. Pegou um CD qualquer da prateleira e entregou para a vendedora. Ficou de costas. Nem sequer olhou para ela. Ela sempre repetia o mesmo procedimento, embrulhava o CD com o papel da loja e o entregava de volta. E ele apenas jogava o dinheiro sobre o balcão e saía. E aos poucos ele foi aprendendo a lidar com a sua timidez, porém não conseguia falar com a vendedora. Era um passo muito grande que ele tinha que dar. E semanalmente ele escolhia um novo CD, a vendedora embrulhava, ele pagava e ia embora. E semanalmente também ele sofria de novos sintomas: cólicas, dores de cabeça, faltas de ar, dores nos ossos, vômitos, tosse, taquicardias, dores de ouvido...
Até que um dia ele resolveu vencer a timidez de uma vez por todas. “Já sei, vou comprar um CD, no saco de dinheiro eu vou colocar meu telefone e endereço.” E lá foi ele, saiu de casa com o saco de dinheiro nas mãos, pegou a rua de trás da sua casa, atravessou-a, entrou na loja, foi até a mesma seção de CD’s, pegou um CD qualquer e... ficou parado. Simplesmente travou. A idéia de vencer aquela timidez que há tanto lhe reprimia o deixou nervoso. Pensou em desistir várias vezes, porém seus pés não faziam nenhum movimento para levá-lo para fora dali. Simplesmente ficou ali, parado, por não se sabe quanto tempo. Começou a imaginar sua vida ao lado daquela moça, aquele nobre sentimento os unindo para sempre. Nunca tinha tido perspectiva de uma longa vida, mas diante daquela vendedora tudo era possível para ele, ela o fazia esquecer a doença, do quarto de vidro esterilizado, dos seus pais preocupados em casa, das suas limitações, dos médicos, dos exames, dos 15 minutos...
Olhou para o relógio: 25 minutos. Correu para o balcão onde a vendedora sorria para ele. E seus olhos se encontraram pela primeira vez. “Que olhos meu Deus!” Para ele já havia valido a pena estar ali atrasado. A visão dos olhos dela era melhor que qualquer visão que ele tenha visto durante todos esses anos que passou contemplando primeiramente os compartimentos da sua casa e depois as paisagens de fora. Nenhuma flor, ou pássaro, ou cheiro, ou som, ou brisa... nada se comparava àquele olhar. Tudo pelo que ele havia passado valeu a pena naquele momento. Todos os dias solitários em sua casa, todas as noites doente, todos os cuidados, os medos, as angústias, os sonhos adiados, os desejos reprimidos, tudo fez sentido naquele olhar. Rapidamente ele jogou o saco com dinheiro em cima do balcão e saiu em disparada para casa agradecendo a Deus por aquele momento.
No outro dia, logo cedo, a vendedora, antes de abrir a loja de CD’s, resolveu bater na porta da casa do rapaz. Uma senhora de preto atendeu a porta. Era a mãe do rapaz. Os olhos vermelhos e inchados denunciavam choro recente. Perguntou se ela era a vendedora da loja de CD’s e após acenar cabeça que sim a mãe do rapaz pediu para que entrasse. No canto da sala de estar, o pai do rapaz soluçava baixinho. A vendedora ficou sem entender. Olhou para a senhora de preto e perguntou onde estava o filho.
“Meu filho morreu... Ele não suportou a última noite, sofreu de inúmeras cólicas, feridas se abriram nas suas pernas, seus olhos foram aos poucos cegando, urinou sangue durante um tempo, até que seus rins deixaram de funcionar, começou então a sentir falta de ar, até que ele não agüentou mais e faleceu nessa madrugada. De todas essas dores, ele só queixava de uma. Da dor no peito por não poder ver os seus olhos novamente.”
E foi então que a vendedora desabou a chorar. Por 15 minutos, a mãe e a vendedora de CD’s choraram abraçadas. Depois daquele momento, a mãe pegou pela mão da vendedora e a conduziu até o quarto do rapaz. Foi então que a vendedora viu a morada dele. A arrumação impecável, o cheiro estéril, as cores neutras, as luzes artificiais... e aquilo a sufocou por um instante. “Como alguém conseguira viver ali por tanto tempo?”, pensou ela. Olhando para o canto do quarto, ao lado da cama, ela viu a escrivaninha dele com uma pilha de CD’s sobre a mesa. A pilha de CD’s que ele havia comprado na loja. Sequer tocara neles. E foi então que ela chorou mais ainda. Abrindo os embrulhos que ela mesma havia feito para ele com tanto carinho, ela tirava todos os bilhetes que havia escrito para ele, declarando todo o seu amor desde o primeiro dia que o vira do outro lado da rua. Do lado dos CD’s, cinco cadernos completamente preenchidos com declarações que ele havia feito para ela, desde o primeiro dia que a havia visto na porta da loja de CD’s.