terça-feira, 15 de março de 2011

Entrando na academia

Um dia você finalmente se olha no espelho e constata:



"Aqueles africanos se sentem magros? Olhem pra mim. Sou uma gaiola. Meu relógio não tem buracos suficientes pra apertar no meu pulso. Meu corpo samba dentro das minhas camisas. Minha roupa é feita sob medida... pra menor do que a que o mercado oferece. Já posso dar depoimento na próxima novela do Manoel Carlos de como sobrevivo com esse corpo."

E então, cansado de chegar nas lojas de roupa e ouvir a atendente falar "35? É pra sua namorada?", cansado de ser chamado de vara seca, sibite baleado, seco do 15, couro e osso, e outras variações de apelidos, você finalmente resolve encarar aquele desafio que tanto adiou: entrar na academia.

Primeiro dia lá está você se sentindo a Amy Winehouse com seu corpo escultural olhando para todo mundo que parece tão mais forte que você. Olha aqueles aparelhos de tortura e se imagina suando goteiras neles. Vai fazer os exercícios com halteres de 1kg, pesos de 2kg no supino, levanta 3kg morrendo na rosca direta. E claro, sempre olha pros lados pra notar o olhar reprovador dos outros que pegam 10, 20, 30kg e acham que você está ali só pra ocupar o espaço deles. É sofrido! Sem mencionar os sustos após os gritos daquele bombado que levanta 100kg com o dedo mindinho machucado. E pra piorar tem os espelhos distorcidos da academia mostrando a todo momento que você não está bem naquele corpo. Se tiver magro ele vai exacerbar, se tiver gordo ele vai exacerbar, se tiver com o corpo bacana ele não vai exacerbar de jeito nenhum. É um bullying psicológico.

Porém sofrimento maior você vai sentir no dia posterior. O tal do ácido láctico que se acumulou e blá blá blá nos músculos vai causar digamos um incômodo. Parece que levou foi uma surra de açoite, nem os escravos antigamente sofriam desse tanto, parece que correu a corrida de São Silvestre puxando uma carroça pelas costas, consegue nem abrir os braços, as pernas fraquejam de vez em quando e anda feito o boneco de Olinda.

Momento crítico, você já pensa em desistir logo de cara. Se a força de vontade persistir, essa dor passa em uma semana. Então digamos que você continuou na academia, já pagou o mês, tem que fazer até o fim, nada de desperdício. Vem o segundo momento crítico. Você termina o mês do jeito que começou, magricela feito um amigo meu acolá após um mês de Sibutramina. Se você ainda assim persistir e continuar no segundo mês parabéns. Após o segundo mês você não vai ter mudado muita coisa de quando terminou o primeiro mês. Aliás, a balança dirá que você está engordando. Terceiro momento crítico.

Após muita crise existencial, se você ainda conseguir relevar tudo de ruim advindo de uma academia e continuar malhando talvez você comece a ver resultados. Pra falar a verdade verdadeira, resultado você nunca verá em si. Quem os verá serão os outros e lhe dirão: Nossa! Como você tá preenchido. Uau! Tá ficando com um corpo bacana.

Só aí é que a academia vai passar a valer a pena. Com o tempo você começa a extrair da academia outros conhecimentos, mas isso é papo pra outra conversa.

Um comentário:

Emanuelle disse...

Huahuahua
Queria ter tempo... e dinheiro... e disposição... pra te acompanhar nesta árdua caminhada...